A invisibilidade dos superdotados na educação brasileira

Quem nunca ouviu falar dos X-Men? Nos quadrinhos, são crianças e adolescentes com poderes extraordinários, acolhidos por Professor Xavier em sua escola especial. Trata-se de uma abordagem lúdica para um tema real e sério: a invisibilidade dos superdotados. Ter um filho superdotado parece uma dádiva, mas a realidade dessas crianças, adolescentes e de suas famílias é bem diferente — e distante da fantasia dos quadrinhos.
A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) asseguram o direito a uma educação que respeite e promova as potencialidades de cada indivíduo. O artigo 58, §1º da LDB determina que programas específicos sejam oferecidos a alunos com altas habilidades ou superdotação, com atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino. Apesar da clareza da norma, o que as famílias enfrentam é omissão, resistência e negação de direitos.
A ausência de regulamentação pelo Ministério da Educação e a falta de orientação técnica eficaz das secretarias estaduais e municipais tornam a aceleração escolar — um direito autoaplicável — uma luta desgastante. Sem diretrizes claras, escolas públicas e privadas ignoram ou relativizam a existência desse público, impondo-lhes uma trajetória escolar incompatível com suas capacidades, o que gera insatisfação, transtornos, evasão e, ainda, prejuízos ao País, que desperdiça talentos e criatividade.
O sistema educacional, que deveria promover equidade, torna-se, para o superdotado, ambiente de tédio, estagnação e sofrimento. Muitos relatam sentir-se subutilizados em sala, passando os dias apenas “esperando”, sem estímulo, desafio ou sentido — o que, para um cérebro hiperfuncionante, é tortura. O resultado é alarmante: ansiedade, depressão e abandono escolar precoce.
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Uma ferramenta que poderia assegurar a aceleração de superdotados é a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Embora criada para quem não concluiu os estudos no tempo regular, ajustada poderia atender superdotados. A própria LDB não veda essa aplicação.
É urgente que o poder público assuma sua responsabilidade com esses estudantes. A falta de regulamentação, a ausência de orientação técnica e o preconceito institucionalizado têm custado caro. Negar a esses jovens o direito ao desafio intelectual é empurrá-los ao fracasso — não por falta de capacidade, mas por excesso dela: mal reconhecida, mal compreendida e, sobretudo, mal acolhida.
O Brasil precisa, com urgência, de uma política pública de educação que inclua os superdotados.
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