A sublime linguagem da música

“Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música”. (Aldous Huxley)
Conto com a permissão de meu diminuto, posto que culto e leal leitorado, para introduzir, neste acolhedor espaço, pausa musical. Tem hora que é necessário fazer isso. Aliás, como se recomenda na canção de Carlos Lyra, “É preciso cantar”…
Confesso, em boa verdade, gostar um bocado de musica, bom sujeito que sou. Como dizia Dorival Caymmi, expoente da infindável musicalidade da Bahia com “H” e de Todos os Santos, quem não gosta de musica, bom sujeito não é.
Não toco nenhum instrumento, não componho, cantar mesmo pra valer, só quando resolvo dar uma de “tenor de banheiro” desafinado. Apreciando, então, ouvir música, prevaleço-me com frequência de instantes reservados ao lazer para audições solitárias, que eu próprio organizo, na tenda de trabalho. Conto sempre com a ajuda prestimosa da Alexa. A obediente secretaria eletrônica facilita muitíssimo o acesso ao inesgotável repertório da “Amazon”.
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Vasculhando o imenso território melodioso, costumo reunir, nas mencionadas audições, diferentes interpretações, vocais ou orquestradas, referentes às canções de minha especial predileção. Dias atrás, seguindo esse método, consegui juntar nada mais nada menos do que 18 versões da belíssima “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso. Aproveito para registrar que o genial compositor não tem sido suficientemente lembrado nas programações radiofônicas e televisivas da atualidade, o que é deplorável e injusto. “Descolei” até uma gravação esplêndida de Frank Sinatra. Mas, a que mais me tocou foi a de outro rei, daqui de nossas paragens, Roberto Carlos.
As viagens que faço pelo reino encantado do “barulho que pensa” (Victor Higo) conduzem-me a descobertas e redescobertas fascinantes. Uma delas diz respeito a uma excepcional cantora brasileira que teve momentos de glória no exterior, mas que em sua pátria, embora aplaudida não encontrou reconhecimento à altura de seu imenso talento. Leny Eversong morreu nos anos 80, em São Paulo, quase no ostracismo. Enfrentou drama pessoal pungente, sobre o qual falarei noutra ocasião. Brilhou intensamente nos palcos de Las Vegas. Fez dueto com Elvis Presley, que a tinha na conta de uma das maiores cantoras mundiais. Repassando suas interpretações é fácil concluir que o chamado “Rei do Rock and Roll” estava coberto de razão.
Dos álbuns por ela deixados constam primorosas vocalizações de clássicos da MPB e do melódico estadunidense. Cito algumas delas: uma extraordinária fusão de “Canta Brasil com Aquarela do Brasil”; “Baixa do Sapateiro”, “Muito Além” (versão brasileira de Al Dila).
Deixo o fecho destas considerações para Schopenhauer: “A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.”
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