Alerta que as empresas precisam ouvir sobre inteligência artificial

É cada vez mais comum ver empresas, executivos e líderes exaltando a inteligência artificial (IA) e a transformação digital. Os discursos são articulados e as promessas encantam, mas, por trás dessa narrativa atraente, muitas organizações seguem operando com práticas frágeis, estruturas confusas e uma base que mal sustenta o presente quanto mais o futuro.
Enquanto se fala em algoritmos e automações, o dia a dia revela empresas sem um planejamento estratégico que realmente funcione, onde decisões são tomadas no improviso, investimentos são direcionados por pressa ou vaidade e metas mudam ao sabor da ansiedade de quem lidera. Em muitos casos, os sócios não se alinham, os gestores se desencontram e as apresentações em PPT não geram resultados efetivos.
Os dados financeiros, que deveriam guiar o crescimento, estão desorganizados, pouco confiáveis e desconectados da realidade. As DREs não se sustentam, os relatórios não batem e as decisões acabam sendo tomadas de forma intuitiva, e não em fatos e dados como manda a boa gestão.
Na dimensão humana, o cenário não é diferente. Em boa parte das empresas, a área de Gestão de Pessoas ainda ocupa um papel secundário, quando não simbólico. Os colaboradores trabalham sem escuta, sem feedback estruturado, sem plano de carreira e sem enxergar qualquer perspectiva de evolução. A consequência é previsível: desmotivação crescente, engajamento superficial e rotatividade silenciosa. A liderança é exercida por profissionais que nunca foram preparados para liderar, que chegaram à posição por mérito técnico ou lealdade, mas que não dominam as competências necessárias para formar, inspirar e desenvolver pessoas.
Também falta ritmo, método de gestão, com reuniões caóticas, indicadores ignorados, prioridades mudando sem critério e equipes exaustas apagando incêndios. A intuição, que deveria ser aliada da experiência, vira muleta para decisões mal estruturadas. A cultura organizacional é confusa ou tóxica, e os talentos vão embora assim que surge uma oportunidade melhor.
Tudo isso levanta uma questão fundamental: como esperar que a inteligência artificial resolva os problemas se nem o básico foi resolvido? A IA pode ser uma alavanca poderosa, mas ela apenas multiplica o que já existe. Se a base for sólida, a tecnologia impulsiona resultados e amplia a performance. Mas se a base for frágil, ela acelera o caos, expõe as falhas e aumenta a velocidade do descontrole.
É por isso que falar de futuro, sem encarar o presente com seriedade, é um risco estratégico. Antes de adotar IA, sua empresa precisa ter uma estratégia clara, uma gestão estruturada, dados confiáveis, cultura saudável, líderes preparados e pessoas bem cuidadas. A tecnologia só faz sentido quando encontra uma base que sustenta sua aplicação.
Empresas que ignoram o básico não estão atrasadas no futuro, estão desconectadas do presente e não é a IA que vai consertar isso. É o trabalho consciente, disciplinado e real que muitos ainda evitam enfrentar.
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