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Aprender para empreender

A educação pode ser a diferença entre um esforço de sobrevivência e um projeto de vida
Aprender para empreender
Foto: Adobe Stock

Nem todo mundo sonha em ser empreendedor. Mas, muitas vezes, é a única alternativa possível diante da falta de emprego, de renda e de caminhos viáveis. Cresci ouvindo histórias assim: gente que começou a vender doces por necessidade, abriu um salão no quintal ou virou MEI para manter a família. O que pouca gente enxerga é o quanto a educação (de verdade, aquela que transforma) pode ser a diferença entre um esforço de sobrevivência e um projeto de vida.

Aprender é mais do que absorver conteúdo. É sobre desenvolver a coragem de tentar. Em regiões com pouco acesso a recursos, estudar pode significar entender como administrar um negócio, criar algo do zero, descobrir que há outras formas de viver. A educação empreendedora, quando bem aplicada, ensina a pensar criticamente, resolver problemas com criatividade e se adaptar – habilidades essenciais para quem quer ter uma empresa com estratégia, não apenas com urgência.

Infelizmente, nosso sistema educacional ainda prepara alunos para obedecer regras, não para quebrá-las de forma criativa. O modelo atual valoriza memorização, tarefas mecânicas e notas. Pouco se fala de liderança, finanças e inovação. E se, desde cedo, os alunos pudessem aprender a propor soluções, errar, testar, gerenciar pequenas ideias? Provavelmente teríamos menos medo de começar e mais consciência de como crescer.

Existe, sim, uma diferença entre se preparar para o mercado tradicional e se preparar para empreender. No primeiro, você aprende a se encaixar. No segundo, a construir. Mas uma formação não exclui a outra. Na realidade, quem une as duas tem mais chance de se destacar, seja como dono do próprio negócio, seja como colaborador criativo dentro de uma organização.

Empreender por necessidade pode ser um caminho duro, solitário e cheio de riscos. É o que acontece em mais de 40% dos casos no Brasil, segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2024. O relatório revela que, embora o País tenha um dos maiores índices de atividade empreendedora do mundo, com 43% da população adulta envolvida em algum tipo de negócio, uma parcela significativa começa por falta de alternativas de renda. Muitos desses empreendedores enfrentam o desafio adicional de ter pouca escolaridade e quase nenhuma formação em gestão, o que compromete a continuidade e o crescimento.
Mas com educação, esse percurso ganha planejamento, propósito e perspectiva. A pessoa aprende a pesquisar o mercado, validar uma ideia, gerir recursos, criar valor. Aprende, principalmente, a se conectar com outros que podem orientar, apoiar e investir. E é nesse ponto que surgem as redes de apoio — o antídoto contra o isolamento de quem toca o barco sozinho.

No fim das contas, é mais do que romantizar o empreendedorismo, é também oferecer condições reais para que ele seja sustentável. A ponte entre estudo e ação existe. O que falta, muitas vezes, é visibilidade. E iniciativas como essa mostram, na prática, que é possível construir essa travessia, até quando o ponto de partida é cheio de obstáculos. Porque à medida que o conhecimento encontra a oportunidade, tudo muda.

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