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O encontro histórico do Arcebispo de Uberaba com o governador Magalhães Pinto, em 64

Pode-se dizer que trata-se de um momento épico único, memorável na crônica dos direitos humanos
O encontro histórico do Arcebispo de Uberaba com o governador Magalhães Pinto, em 64
Crédito: Reprodução Site Arquidiciose de Uberaba

Dom Alexandre defendia, com destemor, perante qualquer poder, o direito e a liberdade.” (José Vicente Bracarense, Coronel PM)

Prometi contar, no último artigo, como transcorreu o encontro histórico do Arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves Amaral, o grande teólogo, pastor-guia de várias gerações, no Palácio da Liberdade, em abril de 64, com o governador Magalhães Pinto.

Do tenso encontro, a portas fechadas, foi testemunha ocular um parlamentar de saudosa memória, amigo de minha família, Hilo Andrade, Delegado-Geral de Polícia, com brilhante folha de serviços. Hilo narrou-me a estupenda cena. Classificou o desempenho de Alexandre de uma grandeza moral e cívica jamais por ele, em momento algum, presenciada. Dá até para recompô-la. De um lado, altivo nos gestos respeitosos e na postura serena, o nosso inesquecível Alexandre, acompanhado de ilustre religioso, companheiro seu de inúmeras jornadas, saudoso Pe Hiron Fleury Curado. Do outro lado, rodeado de assessores militares e civis, todo conciliador, o governador dos mineiros. O relato incandescente e vigoroso do Bispo.

O ambiente solene em que se podia ouvir, nos intervalos do aceso diálogo, o zumbido de insetos. Um momento épico único, memorável na crônica dos direitos humanos. Alexandre, com seu verbo poderoso, deixou evidente a disposição de apelar para remédios extremos, contidos na legislação canônica, caso não fosse possível pôr cobro nos abusos que vinham sendo praticados em Uberaba e outras cidades. O governador entendeu o recado. Ordenou, na mesma hora, sem hesitações, a substituição imediata dos comandos policial, civil e militar, na região do Triângulo. O ilustre Coronel José Vicente Bracarense, do gabinete militar do Palácio da Liberdade, foi designado comandante do 4º BI. E deu, anos mais tarde, um depoimento elucidativo sobre as expressas ordens que lhe foram passadas, naquele dia, no sentido de que seguisse imediatamente para Uberaba de modo a “consertar aquilo lá”. Consertou. Ficou por lá. Nunca mais deixou a cidade. No final da audiência, Magalhães Pinto reteve o deputado Hilo para sussurrar-lhe, comovido: “Esse Dom Alexandre! Que homem, hein Hilo?” Hilo Andrade narrou-me os fatos com os olhos marejados, fazendo força para conter a emoção.

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Este Dom Alexandre foi um autêntico homem de Deus. Homem na acepção mais completa da palavra, símbolo de apostolicidade e desassombro cívico. Patrocinador da Ação Católica, defensor dos direitos humanos, acreditava em princípios e, justamente por isso, enfrentou galhardamente os abusos políticos de momentos trevosos da história.

Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, esteve em Uberaba para manifestar gratidão a Alexandre em nome do Laicato católico, pela posição que adotou frente ao arbítrio.

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