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Beto ‘desapareceu’ na Casa da Morte

Há várias versões fragmentadas, desencontradas e controversas da atuação de Beto como opositor ao regime militar
Beto ‘desapareceu’ na Casa da Morte
Foto: Reprodução Site Memorial da Resistência SP

“Seu amigo esteve aqui” (Frase ouvida por Inês Etiene, na “Casa da Morte”)

Damos continuidade hoje ao relato da trágica odisseia vivida na era trevosa da ditadura, por uma pacata família de classe média mineira.

Inteirados da prisão do caçula Beto, seus pais, Jayme e Alice, ajudados pelos demais filhos, concentraram sues angustiantes esforços na procura do local em que ele poderia estar detido. Na sofrida empreitada, endereçaram apelos a personagens graduadas do regime, implorando-lhes fosse dada a oportunidade de se avistarem com Carlos Alberto Soares de Freitas, de maneira a prestar-lhe alguma assistência. Foram surpreendidos, em certo momento, com manifestação do gabinete militar da Presidência da República. Recebidos por oficiais do gabinete, obtiveram ali a informação, reafirmada dias após em telefonema da mesma fonte, que o filho, com toda certeza, não se achava recolhido a nenhuma dependência prisional.

Acerca da atuação de Beto, como opositor do regime, existem várias versões fragmentadas, desencontradas e controversas. Não padecem dúvidas de que ele, juntamente com Dilma Rousseff e outros, fez parte de organização que operava na clandestinidade incrementando ações de desestabilização do governo. Companheiros seus da época, em depoimentos dados com a chegada da democracia, sustentam que ele abriu cisão no movimento por opor-se à luta armada.

A presa política Inês Etiêne Romeu, companheira de jornada, única sobrevivente da apavorante “Casa da Morte” de Petrópolis, selvagemente estuprada, torturada e multilada, forneceu informação, certamente conclusiva sobre o destino de Carlos Alberto. De um de seus algozes colheu a seguinte frase: “Seu amigo esteve aqui”.

De tudo quanto posto, restou a impactante e dorida certeza de que Carlos Alberto foi assassinado com extrema brutalidade, provavelmente entre fevereiro e maio de 71, na horrenda casa da morte, onde as vítimas, segundo se apurou mais tarde, costumavam ser esquartejadas , Santo Deus!
Entrementes, no lar da família Soares Freitas, zelosamente cuidado pela mãe, o quarto de Beto, com seus livros, roupas e demais pertences permanecia imaculadamente preservado, à espera (que nunca se deu) do ocupante.

Retornando às denuncias de Etiêne sobre atrocidades cometidas na Casa da Morte, denominada pelos desalmados torturadores de “casa da convivência” e “Codão”, numa alusão ao Codi, seja anotado que o deputado Rubens Paiva também passou por lá.

A pungente história do sociólogo Carlos Alberto Soares de Freitas e o drama que se abateu sobre sua família deram origem a livro intitulado “seu amigo esteve aqui”, escrito pela jornalista carioca Cristina Chacel, já falecida, e o filme-documentário com o mesmo título, pronto para lançamento nas telas de cinema.

Por último, não se sabe até hoje, onde foram lançados os restos mortais de Beto.

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