Artigo

Bets potencializam riscos de fraudes nas empresas

Com a explosão das Bets, tema passou a ser motivo de preocupação em vários setores do Brasil, além de chamar a atenção do cenário político
Bets potencializam riscos de fraudes nas empresas
Foto: Reprodução Adobe Stock

Em todo o mundo, o vício em jogos sempre figurou entre importantes motivadores para criminosos fraudadores nas empresas, vício esse, que foi sempre eficiente em acabar com carreiras e causar prejuízos. No Brasil, até recentemente, este tema não era fator relevante pela ausência da cultura de jogos de azar, não era ainda presente de forma abrangente. Contudo, em 2024 com a explosão das Bets, seu amplo acesso, grande oferta e facilidade de utilização, altera-se drasticamente este cenário demandando maior atenção das empresas.

Em 1953, o Ph.D. Donald Cressey publicou uma pesquisa em seu livro de título “Other People´s Money” (O Dinheiro dos Outros). Neste livro são apresentadas conclusões originadas de 250 entrevistas com fraudadores que tinham em comum dois critérios: (1) exerciam função de confiança em suas companhias, (2) quebraram esta confiança. A pesquisa concluiu que três fatores, atualmente conhecidos como o “Triângulo das Fraudes”, estavam presentes em todos os casos:

1) “Pressão” – Fraudadores tinham algum problema financeiro que não podiam compartilhar com pessoas de seu convívio;

2) “Oportunidade” – Fraudadores conheciam formas de fraudar a companhia, podendo resolver seus problemas financeiros.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


3) “Racionalização” – Os fraudadores identificaram uma desculpa moral para com eles mesmos, tornando a transgressão aceitável em sua consciência.

Em 2024, 70 anos depois, esta teoria permanece confirmada, inalterada e válida. De acordo com o ‘Relatório às Nações’ de 2024, emitido pelo ACFE (sigla em inglês para a Associação dos Examinadores de Fraude Certificados), 73% dos fraudadores tinham problemas financeiros e/ou possuíam estilo de vida incompatível com seus rendimentos e/ou possuíam problemas de vícios em jogos, e, ainda, 55% dos fraudadores não tinham registros negativos junto ao RH de suas empresas.

É possível observar as companhias lutando contra estes três pilares da fraude em suas linhas de defesa, melhorando seu ambiente de controle interno para combater tais “oportunidades”, e fomentando culturas de comportamento ético para evitar a “racionalização”. Entretanto, o grande desafio permanece com o terceiro pilar chamado “pressão”.  Mitigadores deste risco poderiam estar relacionados à gestão de performance eficiente, boa comunicação e governança. Contudo, envolve também um ambiente externo com solução complexa e adversa à nossa legislação e cultura local com impactos trabalhistas, de privacidade e de discriminação. O acesso a esta individualidade, que é privada, é bastante limitado.

Portanto, considerando esta recente mudança do ambiente de riscos, torna-se necessário falar sobre saúde financeira e vícios em jogos com colaboradores nas empresas. O tema passa a ser tão importante quanto falar de segurança, performance e resultados. Os Líderes devem estar atentos ao assunto, devidamente capacitados e prontos para identificar e tratar destes problemas.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas