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Brasil na mira dos golpistas digitais

Pesquisa mostra que 26% dos brasileiros afirmam ter sido vítimas de fraude em 2024
Brasil na mira dos golpistas digitais
Crédito: Adobe Stock

Nenhum outro país do mundo é tão vulnerável a golpes on-line quanto o Brasil. Os dados do Índice de Fraude 2025, levantamento da Veriff, são contundentes: o País lidera o ranking global de fraudes digitais, com cidadãos sofrendo ataques cinco vezes mais do que nos Estados Unidos e no Reino Unido. O número, por si só, deveria acender um alerta vermelho não apenas sobre a sofisticação dos golpistas, mas sobre a fragilidade estrutural da nossa cultura digital.

A pesquisa revela um cenário preocupante: 26% dos brasileiros afirmam ter sido vítimas de fraude no último ano, contra 15% nos EUA e apenas 10% no Reino Unido. As perdas também impressionam. Quase 40% relataram prejuízos de até R$ 1.300, e 5% perderam mais de R$ 26 mil em um único golpe. Por trás desses índices está uma combinação perigosa de confiança excessiva, pouca educação digital e uma transformação tecnológica que avança mais rápido do que nossa capacidade de proteção.

A popularização da inteligência artificial e dos deepfakes inaugurou uma nova geração de crimes digitais: mais sofisticados, mais convincentes e cada vez mais acessíveis. Golpistas não precisam mais dominar técnicas complexas — basta utilizar ferramentas generativas capazes de imitar vozes, rostos e comportamentos com precisão. Segundo o estudo, 60% dos brasileiros já sofreram ao menos uma tentativa de fraude impulsionada por IA, frente a 78% no cenário global. O que antes era um problema técnico tornou-se uma questão social, ética e educativa.

Há uma contradição evidente. O Brasil está entre os países que mais passam tempo on-line e, ao mesmo tempo, entre os menos preparados para identificar manipulações digitais. O problema não é apenas falta de antivírus ou senhas seguras; é um déficit profundo de alfabetização digital. Falta repertório crítico para reconhecer riscos, avaliar fontes e adotar hábitos mínimos de segurança.

Ainda assim, o estudo aponta um sinal positivo: os brasileiros demonstram maior abertura do que a média global para adotar sistemas de proteção digital. Isso indica espaço para políticas públicas, iniciativas privadas e programas de educação que tratem segurança digital como parte da vida cotidiana — com linguagem clara, acessível e focada em comportamento, não apenas em tecnologia.

O maior risco não está apenas em cair em um golpe sofisticado, mas em naturalizar a desconfiança como parte da vida on-line. Se tudo pode ser manipulado, o que ainda é real? Nesse contexto, a liderança do Brasil no ranking global de fraudes digitais é mais do que um dado incômodo. É um aviso: inovação sem educação vira terreno fértil para o crime. Enquanto tratarmos segurança digital como um problema técnico e não cultural, continuaremos sendo o elo mais frágil dessa revolução tecnológica.

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