Evento do Brics no Brasil reforça cooperação entre nações emergentes para desafios globais atuais

Na última semana, a cidade do Rio de Janeiro recebeu a 17ª Cúpula dos Brics, evento que reforça a importância da cooperação entre nações emergentes frente aos desafios globais atuais. O Brics, originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, expandiu-se significativamente, incorporando agora Irã, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Egito, Etiópia, além de Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Nigéria, Malásia, Tailândia, Vietnã, Uganda e Uzbequistão como países parceiros.
Sob o tema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, a cúpula – realizada entre 6 e 7 de julho de 2025 – reafirmou compromissos com a reforma das instituições globais, avanços na governança climática e na inteligência artificial, além do enfrentamento de doenças socialmente determinadas. Um dos pontos centrais foi a exigência de financiamento climático justo, com cobrança direta aos países desenvolvidos para assumirem o ônus histórico da mitigação de riscos climáticos.
A proposta do fundo “Tropical Forests Forever”, apresentada pelo Brasil, recebeu apoio de países como China e Emirados Árabes. Além disso, o bloco defendeu uma transição energética justa, com medidas que garantam trabalho digno em setores impactados — tema amplamente debatido nas reuniões técnicas. Outro avanço significativo foi o lançamento da Declaração de Governança da IA, que estabelece diretrizes para proteger direitos autorais, privacidade e soberania de dados, assegurando equilíbrio entre inovação e justiça social.
A agenda também incorporou uma dimensão social inédita: foi criado o “People’s Council” (Conselho do Povo), reunindo, pela primeira vez, representantes da sociedade civil, jovens, mulheres, movimentos populares e sindicatos – num canal direto com os Tomadores de decisão (Sherpas). Essa iniciativa – considerada histórica por seu caráter inclusivo – visa garantir que as resoluções reflitam as necessidades reais das populações.
O impacto social dessas decisões é relevante: o fortalecimento de políticas para a igualdade de gênero, o apoio a pequenos agricultores, a garantia de moradia digna e a promoção da saúde pública significam avanços concretos, especialmente em nações vulneráveis. A paralisação do apoio a subsídios agroindustriais e a criação do Brics Grain Exchange também indicam esforços para reduzir a disparidade alimentar. Entretanto, nuances acompanham esses passos. A ausência presencial de líderes como Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia) – com Putin participando apenas virtualmente – expôs os limites do bloco e levantou questionamentos sobre sua coesão.
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Conflitos de interesse entre democracias e regimes autoritários, assim como divergências quanto ao ritmo da transição energética, persistem como desafios internos. Ainda assim, o encontro no Rio representa um marco de relevância social e política. Mais do que uma reunião diplomática, a cúpula demonstrou que o Sul Global quer voz ativa em fóruns internacionais, reivindicando justiça climática, soberania digital, apoio a agendas populares e inserção digna no sistema financeiro global.
A cúpula fortaleceu o protagonismo dos países em desenvolvimento e abriu caminho para uma agenda global que, finalmente, contempla o bem-estar das pessoas. Agora, cabe aos Brics transformar essas diretrizes em políticas tangíveis, convergentes com COP30, com um olhar sensível às desigualdades e clamor por justiça. O Rio testou a capacidade do bloco – e o mundo espera ver a transformação.
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