Café importado sem impostos: mágica ou cortina de fumaça?

O mercado global de café enfrenta atualmente uma série de desafios que impactam oferta, demanda e preços. Como profissionais do setor cafeeiro, é nossa responsabilidade esclarecer a complexidade dessa situação e as perspectivas futuras.
A recente medida do governo de zerar a tributação de importação não reduzirá os custos do café no varejo, pois não dependemos de importações para abastecer o mercado. A alta de preços é internacional, com cotações reguladas na bolsa de Nova York. Além disso, o café de outras origens também enfrenta preços elevados. Reequilibrar os preços exige soluções profundas, como lidar com questões climáticas que afetam a produção há anos. É fundamental agir com inteligência e foco, evitando politizações e apoiando tanto consumidores quanto produtores.
Em 2025, espera-se que o mundo produza entre 160 e 170 milhões de sacas de café, enquanto o consumo deve variar entre 170 e 175 milhões, resultando em um déficit. Os estoques estão baixos devido à pandemia e a problemas logísticos, além do alto custo de manter estoques elevados. Preços altos, oscilações cambiais e déficits sucessivos entre produção e consumo trouxeram desafios para exportadores e importadores, que enfrentam dificuldades com a valorização do dólar e do café.
Nos últimos anos, mudanças climáticas drásticas, como geadas, secas e altas temperaturas, afetaram severamente a produção. Isso exige altos investimentos dos produtores para adaptações, mesmo com a pesquisa avançando mais lentamente que as transformações climáticas. Apesar dos altos preços, os produtores não estão lucrando amplamente devido à entre safra, à baixa liquidez e aos custos elevados.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Os cinco maiores produtores globais de café – Brasil, Vietnã, Colômbia, Indonésia e Etiópia – enfrentam problemas relacionados ao clima, à mão de obra, à logística, à infraestrutura e à política. Soluções para aumentar a oferta são complexas devido às limitações estruturais desses países. Os maiores consumidores – Estados Unidos, Brasil, Alemanha, Japão e França – têm mercados estabilizados.
Entretanto, nos próximos anos, países orientais como China e Índia devem aumentar seu consumo, devido ao crescimento populacional e às mudanças culturais.
A solução para equilibrar a oferta e a demanda global é complexa. Países do hemisfério norte não têm condições climáticas para produzir café e são grandes consumidores. Já os países produtores no hemisfério sul, mais pobres, enfrentam desafios para expandir sua produção. Além disso, há carência de governança global estruturada para a cadeia produtiva.
Apesar dos desafios, o café não irá acabar, mas pode se tornar mais caro. Portanto, é essencial promover mudanças nos hábitos de consumo, priorizando qualidade, origem e valorizando o trabalho do produtor brasileiro.
Ouça a rádio de Minas