O caudilho de Caracas quer guerra

“Uma coisa que não queremos aqui na América do Sul é guerra”. (Presidente Luiz Inácio Lula da Silva)
Dizer que Nicolás Maduro é imaturo é pouco. A rima pronta não define, com exatidão, seu perfil autocrático. Do alto de embriagadora prepotência, o caudilho de Caracas apronta, volta e meia, muita confusão. Como agora nessa forçação de barra com o fito de alterar o mapa geográfico da América do Sul.
Baseado numa questão de limites, de mais dois séculos atrás, com a Guiana, antiga colônia inglesa, ele resolveu, inesperadamente, formalizar medidas descabidas, de caráter unilateral, com amalucado propósito de abocanhar 2/3 do território do país vizinho. Promoveu, de uma hora para outra, plebiscito fajuto na tentativa de conquistar apoio popular para a extravagante ideia da “atualização do mapa da Venezuela”. A manobra é visivelmente populista com enganosa tintura nacionalista. Depois de anunciar a anexação, na marra, da área localizada na tríplice fronteira Brasil-Guiana-Venezuela, já deu até nome à “nova” unidade da Federação Bolivariana e designou militar graduado para o cargo de governador.
Na visão de qualificados observadores, o que Maduro está levando a cabo é jogo de cunho eleitoreiro voltado para intenção de conquistar novo mandato governamental em 2024. Faz parte do jogo, segundo as mesmas fontes, a anulação do poder de fogo dos adversários, como evidenciado na decisão da Procuradoria Geral da República, ordenando, paralelamente aos atos anexatórios, a prisão de dezenas de adversários, sob a alegação de crime de lesa pátria, já que “teriam se oposto” ao referendo…
A encrenca criada por Maduro está preocupando as chancelarias dos países americanos e do Caribe, mormente o Itamaraty. O presidente Lula, tanto na reunião recente do Mercosul quanto em declarações aos veículos de comunicação, deixou evidente a posição brasileira diante da abusiva pretensão da Venezuela. “Uma coisa que não queremos aqui na América do Sul é guerra”, afirmou taxativo. O Chefe do Governo explicou ainda que o Brasil e o Itamaraty estão prontos para sediar qualquer e quantas reuniões forem necessárias na mediação do conflito. Foram dados a conhecer contatos feitos pelo Planalto com Caracas e Georgetown, enfatizando interesse em contribuir para a conciliação entre as partes.
É bastante sugestivo sublinhar, como demonstração inequívoca do oportunismo que moveu Maduro na temerária empreitada, a circunstância do tema da fronteira com a Guiana ter sido por ele, por muito tempo olvidado, bem como pelo seu antecessor e chefe Hugo Chávez. Era a oposição que batia, com certa insistência, na tecla. A retórica do ditador quer, agora, impor o inverso. A região do forçado litígio, o que explica parte do interesse mundial suscitado pelo modo intempestivo de agir de Maduro, é rica em petróleo. A preocupação do Brasil com os acontecimentos em curso contempla também a inconveniência da provável instalação, provocada pelo comportamento agressivo de Maduro, de uma base militar estadunidense na região amazônica. O Ministério da Defesa do Brasil ordenou o reforço dos efetivos militares que guarnecem nossos limites geográficos com os dois países. Maduro externou o propósito de incluir a Rússia no aceso debate sobre a questão em jogo, o que está sendo visto pela opinião pública internacional como algo desprovido de qualquer fundamento.
À hora em que estas considerações estavam sendo alinhadas, o quiproquó desencadeado por Maduro evoluía no sentido da realização de um encontro diplomático nesta quinta-feira, em São Vicente e Granadinas, país caribenho com a participação dos mandatários da Venezuela e Guiana, além de representantes dos países que compõem o Celac. O Brasil será mediador das negociações, sendo representado pelo diplomata Celso Amorim.
A agressividade verbal adotada por Caracas – dá pra perceber – gera empecilho ao desejável entendimento.
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