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Como o aumento da dívida pública afeta o brasileiro real?

Aumento da carga tributária e de impostos e a consequente redução da renda disponível para o consumo das famílias estão entre os efeitos
Como o aumento da dívida pública afeta o brasileiro real?
Foto: Bruno Domingos/Reuters

A dívida pública é o montante que o governo deve a credores internos e externos, contraído, principalmente, por meio de emissões de títulos. Ela é formada pelo acúmulo de déficits orçamentários – quando o governo gasta mais do que arrecada – e por alta taxação sobre os empréstimos.

Esse aumento ocorreu devido aos juros altos, ao aumento de gastos públicos, aos déficits recorrentes no orçamento e à dificuldade de arrecadar mais de forma sustentável. Quando elevada, o governo precisa direcionar mais recursos para o pagamento da diferença entre as despesas e os recebimentos, reduzindo a capacidade de investimento na saúde, na educação e na infraestrutura; isso afeta a qualidade dos serviços.

A alta pode gerar uma crise no mercado, elevar o risco de calote, exigir ajustes fiscais severos, limitando o orçamento para políticas públicas. A percepção de risco força um autofinanciamento. Taxas de juros elevadas encarecem o crédito e aumentam o custo da dívida do país.

Para pagá-la, o governo aumenta impostos, reduzindo o poder de compra dos cidadãos. O consumo é afetado negativamente. Isso pode restringir o desenvolvimento de setores estratégicos e a empregabilidade. Menos investimentos em infraestrutura limita novas oportunidades econômicas.

A dívida pública é o projeto pelo qual a estagnação econômica favorece uma elite diminuta, mas inchada pelo rentismo. No fim de 1970, o Brasil e a Coreia do Sul eram os dois únicos países com passado colonial que tinham “superado” o agrarismo, modernizando-se, transformando-se numa sociedade urbana. Contudo, em 1980 houve uma interrupção no ciclo do desenvolvimento nacional.

Conforme dados do texto “O Projeto Político da Dívida Pública”, de Márcio Pochmann, presidente do IBGE, publicado em Outras Palavras, enquanto a participação do Brasil no Produto Interno Bruto mundial (PIB) diminuiu de 3,2%, em 1980, para 1,7%, em 2022, a quantidade de brasileiros com patrimônio mensurável igual ou superior a US$ 1 bilhão saltou de três, em 1987, para 62, em 2022.

Anteriormente, a riqueza se concentrava nos setores da construção civil e na indústria de transformação. Hoje, os bilionários são banqueiros e do agronegócio. O subdesenvolvimento é o resultado desta equação. Todo esse problema é resolvido com a criação de superávits primários, ajustes fiscais, reformas estruturais, cortes de gastos e políticas que estimulem o crescimento econômico.

Estima-se que o déficit orçamentário comporá 80% do PIB. O curto prazo de vencimento (média de 4,11 anos) é outro problema, pois obriga o governo a refinanciá-la, o que pode aumentar as taxações, pressionando a inflação. A combinação de juros elevados e prazos curtos a torna um fardo, pois o custo de rolá-la aumenta, comprometendo o orçamento público e reduzindo o espaço para investimentos em áreas essenciais, o que afeta o crescimento e a qualidade de vida da população.

Portanto, qual a consequência direta de todo esse aumento de dívida para o brasileiro real?
Aumento da carga tributária e de impostos, reduzindo a renda disponível para o consumo das famílias. Corte em gastos públicos e de despesas, o que afeta a saúde, a educação e a segurança. Isso pode levar a uma piora na qualidade desses serviços. Desconfiança do investidor: isso pode desvalorizar a moeda, aumentar a inflação e aumentar a instabilidade econômica. Ou seja, cuidar dos gastos públicos e cobrar os governantes assertivamente é, no fundo, cuidar da nossa sociedade e, em última instância, dos nossos próprios bolsos.

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