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As conexões

As conexões
Crédito: Karolina Grabowska/Pexels

Tudo e todos estamos conectados em uma rede intrincada de relacionamentos no universo.

Compreender os efeitos de nossas atitudes e analisar as origens dos problemas vividos requer muito desenvolvimento pessoal e investigação em moldes científicos, porque frequentemente tomamos os efeitos pelas causas.

Ficamos surpresos com o resultado de uma pesquisa científica, por exemplo, que revelou que a doença de Parkinson pode ser causada também por uma intoxicação. Parkinson é uma doença neurodegenerativa comum, que causa alterações dos movimentos do corpo incluindo tremores, movimentos lentos, rigidez e perda do equilíbrio. Afeta um a dois por cento da população.

Habitualmente a causa é atribuída a danos inflamatórios às células nervosas do cérebro que diminuem seus níveis de dopamina. De repente identificou-se uma subpopulação de uma determinada área com uma incidência de 26% de adoecimento desta condição. Descobriu-se que todos tinham em comum a história de terem trabalhado em um mesmo lugar – uma certa base militar americana. O processo de pesquisa foi meticuloso, mas conseguiu encontrar a causa: o consumo de água contaminada com um solvente químico chamado tricloroetileno.

Quando ratos de laboratório foram expostos ao produto desenvolveram degeneração no cérebro na região chamada “substância negra”, justamente onde estão as células produtoras de dopamina que se tornam doentes nos portadores de Parkinson. Esta substância foi sintetizada pela primeira vez em 1864 e por suas propriedades anestésicas rapidamente ganhou preferência em relação ao clorofórmio usado na época, pois era menos tóxica para o fígado, menos volátil e inflamável também quando comparada ao éter. Permaneceu em uso por quase cem anos. Somente por volta de 1970 seus efeitos deletérios foram revelados e seu uso em Medicina foi interrompido por determinação dos órgãos reguladores em 1977.

Foi substituído por outra molécula descoberta em 1955 de nome halotano, que se mostrou um anestésico superior, hoje também já superado pelo sevoflurano.

Mas o risco não acabou. O tricloroetileno possui dezenas de outros usos na indústria. Ele pode por exemplo ser usado como um desengordurante de metais que necessitam ser submetidos a outros procedimentos como galvanoplastia ou pintura. Pode estar presente ainda em removedores de manchas e tintas, detergentes para carpetes, aerossóis que prometem uma limpeza eficaz etc. Assim, pode ser ingenuamente veiculado no ar, água, solo ou nos ambientes em que foi utilizado onde se degrada lentamente. Desta forma, pode alcançar sem alardes um consumidor que respirar, ingerir plantas cultivadas em solos contaminados ou beber águaque contenha mínimas quantidades do produto. O tempo de exposição médio das pessoas que desenvolveram o mal de Parkinson foi cerca de três anos.

Este caso serve de grande alerta para a simbiose que deve existir entre os humanos e seu meio ambiente uma vez que todas as nossas ações podem implicar em efeitos nocivos para nós mesmos. E várias outras substâncias geradas pela destinação inadequada de nossos descartes estão relacionadas ocultamente ao aumento de incidência de muitas outras doenças, inclusive o câncer.

A história de como os grupamentos humanos impactam onde vivem é problema desde que nos organizamos em comunidades. Podemos considerar que a civilização humana na forma que conhecemos existe há duzentos mil anos. Estima-se então que foram necessárias aproximadamente cinco mil gerações para chegarmos aonde estamos hoje. Cada época impõe suas próprias demandas gerando formas de usar a natureza, pensar e de ser característicos. A geração dos Baby Boomers (pós II Guerra Mundial), 1946-1964 desejava ardentemente prosperidade econômica e estabilidade social. A geração X, 1965-1980, priorizou a independência e individualismo. A geração Y (Milênicos), 1981-1996, esteve imbuída com a ideia de tecnologia, inovação e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, com críticas ao trabalho duro sem lazer da geração anterior. Já a geração Z, 1997-2010 se caracterizou por compreender a diversidade, inclusão e seu ativismo social. Sua sucessora foi a geração alpha, 2010-2020, que nasceu com a tecnologia nas mãos e valoriza cada vez mais um mundo digital. Vemos a ascensão das relações virtuais, dos games e a incorporação da inteligência artificial.

A conexão de cada um com os valores básicos dos seres humanos varia pouco entre os povos. Por isso, não podemos perder de vista que é isso que nos faz sentir que a vida vale a pena. Podemos citar como esteios principais o amor, honestidade, respeito, justiça, liberdade, empatia e solidariedade. Além de sabermos que o planeta precisa de cuidados para se manter vivo e saudável, precisamos nos lembrar que tipo de habitante está se moldando aqui.

Na regência do mundo estão leis que não conseguimos desafiar. Porque as circunstâncias que nos dão sentido como pessoas são muito claras. Na canção Trem-Bala, Ana Vilela revela um pouco do paraíso que almejamos: “É sobre ser abrigo e também ter morada em outros corações”.

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