Conheça a história dos frades ‘nazistas’

“A polícia invadiu o convento dominicano.” (Manchete de jornal)
Com apenas 10 anos de padre, Alexandre Gonçalves Amaral foi sagrado Bispo (1939 em BH). Com 33 anos, foi o Bispo mais jovem em todo o mundo. Em dezembro do mesmo ano tomou posse da Diocese de Uberaba. Tornou-se Arcebispo em 1961, deixando essas funções em 1978. Permaneceu em Uberaba, como o Bispo mais idoso do mundo, até o falecimento em 2002.
Contei anteriormente passagem antológica de sua atuação como líder espiritual destemido, transcorrida à época da segunda Guerra Mundial. Remeto o leitor agora a outro incidente, quase à mesma época, em que os frades dominicanos foram acusados de “nazistas” pelo Estado Novo (anos depois seriam acusados, noutro momento de autoritarismo, de “comunistas”). De repente, na esteira de ruidosas manifestações, produzidas em razão da entrada do Brasil na guerra, um boato maldoso, ridículo a mais não poder, ganhou as ruas. Propagado com intensidade por vespas anônimas, dessas que nascem nas sombras e nas sombras se perdem, o boato dava conta de que o convento dominicano de Uberaba, onde existe um dos mais belos templos brasileiros, abrigava um núcleo subversivo, a serviço da “quinta coluna” do Eixo. Haveria até – vejam só! – uma estação de rádio clandestina utilizada pelos perigosos frades, incumbidos por Hitler de municiar com informações os submarinos alemães que rondavam nossas costas com objetivo de pôr a pique navios brasileiros.
O intrépido titular da Delegacia de Polícia, no uso de suas atribuições e do alto de seu desarticulado bestunto, encarou a coisa muito a sério. Vestiu a indumentária “sherloqueana” dos grandes momentos e comandou sofisticada operação destinada a desbaratar o tenebroso conluio dos terroristas de batina com os agentes da SS e outras organizações abrigadas pela sinistra suástica. Deu força aos ridículos rumores sem levar em conta a respeitabilidade da Congregação, sua maravilhosa obra social e a dignidade da comunidade religiosa. Deu também, como era de esperar, com os burros n’água. Teve que engolir goela abaixo, algumas horas mais tarde, ao lado de seus superiores hierárquicos, uma senhora descompostura. Uma concentração popular, proibida com ameaças de prisão, reuniu milhares de pessoas indignadas, convocadas pelo Bispo corajoso com o propósito de desagravar, de maneira moralmente compensadora, os sacerdotes alvejados. E como até as ditaduras, vez por outra, costumam ter os seus lampejos de pudor, da alta cúpula estado-novista chegou a ordem, bem rápida e enfática, de afastar todos os despreparados agentes da lei envolvidos na estrepitosa palhaçada.
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Em Monte Alegre, episodio parecido ocorreu com reação de Dom Alexandre no mesmo tom. Adiante, mais histórias de despotismos repelidos pelo Bispo.
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