COP30: a desorganização e o ufanismo como escudo
As palavras de Friedrich Merz, chanceler da Alemanha, ditas há poucos dias durante um discurso no Congresso Alemão do Comércio, parecem ter tocado fundo em alguns corações brasileiros.
O político afirmou ter perguntado a jornalistas alemães que o acompanharam na COP30, realizada em Belém, no Pará, e relatou que todos teriam ficado aliviados por retornar ao país de origem após o evento. No Brasil, muitas pessoas sentiram-se ofendidas pela fala. Surge então a questão: ele tem motivos para expressar tal pensamento ou trata-se apenas de uma visão preconceituosa sobre um país em desenvolvimento? É importante atentar-se aos fatos.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) apresentou problemas antes mesmo do início dos encontros. Os preços claramente abusivos da hospedagem provocaram reações de diversos países. Ainda que seja compreensível que Belém não disponha de estrutura hoteleira suficiente para receber um afluxo tão grande de pessoas, caberia ao governo brasileiro solucionar essa dificuldade, mesmo que isso implicasse mudar o evento para outra localidade. É importante salientar que, mais do que a imagem do Pará, estava em jogo a reputação do Brasil como anfitrião de um evento internacional. Lamentavelmente, a escassez de leitos e a elevação desmedida dos valores cobrados por qualquer acomodação não foram resolvidas a tempo.
Durante o encontro, reportagens chamaram atenção para os valores extremamente elevados da alimentação e para deficiências estruturais de alguns espaços, nos quais ocorreram, por exemplo, problemas no funcionamento do ar-condicionado, algo especialmente crítico diante da temperatura e da umidade típicas de Belém.
Se para um brasileiro, normalmente acostumado ao calor, a situação já não deve ter sido simples, é fácil imaginar o impacto para europeus habituados a climas temperados. Do ponto de vista econômico, a perda de oportunidade para atrair turistas é evidente, pois dificilmente alguém se sente motivado a visitar um país que apresenta problemas tão claros de organização e indícios de má-fé na estipulação de preços.
Ao que parece, não apenas o chanceler alemão tem motivos para reclamar do que vivenciou em terras brasileiras. É claro que não é elegante criticar o anfitrião, mas isso não encobre o fato de que o evento apresentou múltiplos problemas.
O ufanismo, porém, é um escudo útil em situações como essa, e não tardaram a surgir nas redes sociais manifestações de brasileiros que se sentiram ultrajados pela declaração da autoridade alemã. É natural que isso ocorra, pois é sempre mais fácil indignar-se contra um estrangeiro do que refletir sobre a notória desorganização nacional e sobre a triste característica cultural brasileira de, não raramente, tentar levar vantagem a qualquer custo, como ocorreu nos casos da hospedagem e da alimentação. Isso sem mencionar o despreparo do serviço de segurança diante de manifestações com traços de violência registradas em determinado momento da COP30.
Qual é o objetivo do Brasil ao receber eventos internacionais como este? Em teoria, deveria ser demonstrar ao mundo, além das belezas naturais, a competência dos cidadãos e do governo em organizar algo grandioso e funcional. Lamentavelmente, parece que o País, mais uma vez, perdeu a chance de construir uma imagem positiva no exterior.
Em vez de direcionar a atenção às declarações do chanceler alemão como uma ofensa aos brasileiros, é mais construtivo observar as críticas e os desacertos na organização como lições para decisões melhores em uma próxima oportunidade de sediar encontros internacionais. Difícil, porém, acreditar que isso acontecerá, pois, como costuma ocorrer no Brasil, provavelmente o assunto será politizado e nada realmente produtivo resultará dos acontecimentos observados durante a COP30. É mais confortável acusar um estrangeiro de preconceito do que enfrentar as chagas nacionais. E assim caminha a brasilidade.
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