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Crise climática não se resolve com promessas

É preciso cortar emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 43% até 2030, o que ainda está longe de acontecer
Crise climática não se resolve com promessas
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Enquanto o mundo se volta para a Amazônia, que sedia a COP30 em 2025, um ponto importante precisa ser colocado no centro das discussões: a crise climática não será resolvida com promessas — mas sim com ação em um contexto global e multilateral, só se sustenta com transparência e monitoramento efetivo. Sem esses dois pilares, o que se tem são metas bonitas no papel, discursos bem intencionados e, na prática, mais uma década perdida.

A ciência já não deixa dúvidas: é preciso cortar as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 43% até 2030 se quisermos limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Mas os compromissos nacionais somados (as chamadas NDCs) apontam, no máximo, para uma redução de 14% até lá, segundo estimativas recentes da OCDE. Em paralelo, as emissões globais continuam crescendo. Em 2023, atingimos um novo recorde: 57,1 gigatoneladas de CO₂ equivalente foram lançadas na atmosfera. É como se o mundo inteiro dissesse “nós vamos agir” — enquanto pisa fundo no acelerador.

Neste cenário, a transparência deixa de ser apenas um valor democrático para se tornar um instrumento de sobrevivência. É ela que nos permite saber o que está sendo feito, quem está cumprindo o que prometeu, onde estão os gargalos e o que precisa ser ajustado. Por isso, não há como cobrar resultados se os dados são imprecisos, escondidos ou incomparáveis, tampouco é possível cooperar entre nações quando não se sabe exatamente o que cada uma está entregando. A confiança no sistema climático global depende disso.

Mais que isso: o monitoramento contínuo das metas climáticas permite agir antes que seja tarde. Quando se tem acesso a indicadores robustos e atualizados, é possível corrigir políticas públicas ineficazes, redirecionar investimentos e priorizar ações de maior impacto. Também ajuda a combater o greenwashing, tão comum em governos e empresas que anunciam compromissos sem qualquer base verificável.

Dessa forma, a COP30, que acontece no coração da Amazônia, tem potencial para ser um divisor de águas. Ela marcará o primeiro grande ciclo de revisão das metas do Acordo de Paris desde a criação do Global Stocktake — o mecanismo de balanço global que exige não só promessas, mas provas de progresso. É a hora de transformar ambição em obrigação.

Com isso, o Brasil, na liderança da conferência, terá a oportunidade (e a responsabilidade) de ficar à frente desse debate. Iniciativas como o “Mutirão pelo Clima”, que pretende abrir espaço para a participação da sociedade civil no processo de elaboração de metas, apontam para o caminho certo. Mas é preciso ir além. Países devem apresentar planos claros de implementação, com metas intermediárias, indicadores por setor e mecanismos independentes de verificação. Não se trata de burocracia — mas de garantir que o mundo esteja, de fato, indo na direção certa.

Além disso, transparência também é um ato político, pois ela dá poder à sociedade civil; permite que a imprensa faça seu trabalho, que as organizações cobrem coerência, que populações indígenas e comunidades vulneráveis acompanhem os impactos e as soluções prometidas. Em um momento em que as mudanças climáticas já afetam a vida de milhões de pessoas, o mínimo que se espera é que as decisões sejam tomadas às claras — e com base em dados reais.

Dessa forma, vale concluir que o planeta não precisa de mais promessas vazias, mas sim de compromissos sérios, com metas verificáveis, mecanismos de controle e vontade política para agir. A COP30 será um teste de coerência e a escolha está posta: podemos seguir adiando decisões, fingindo progresso, ou podemos construir um novo pacto global baseado na verdade, na transparência e na ação.

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