Cronovisor, os fatos e a lenda
“É um bocado excitante imaginar que se possa, em algum momento, buscar nas “nuvens” cenas e sons do passado (Antonio Luiz da Costa, Professor)
Como relatado, na segunda metade do século XX, quando o desenvolvimento tecnológico ganhou ritmo mais acelerado, um monge beneditino Pellegrino Ernetti, musicólogo que se dizia “cientista de vanguarda”, causou alvoroço nos círculos científicos ao anunciar a prodigiosa descoberta de uma “máquina do tempo” com capacidade de captar imagens e sons do remoto passado. Segundo ele, o dispositivo surgiu nos anos 50 em pesquisa envolvendo outros cientistas famosos, tendo sido confiscado pelo Vaticano por ordem do Papa Pio XII.
Baseados em coleta, propiciada pela IA, de amplo documentário recolhido a respeito do instigante assunto, procederemos, neste artigo, a uma verificação factual, confrontando os fatos narrados por padre Pellegrini com o rigor da ciência e a amostra arquivística. A “desconstrução da lenda” do “Cronovisor” é impulsionada pela ausência de evidências. Um aparelho com tamanha potencialidade deveria ter deixado algum vestígio. Tais como: patentes, diagramas, testemunhas independentes ou, ao menos, algum registro de pesquisa nos vastos Arquivos do Vaticano.
Historiadores qualificados alegam não haver nada disso. A explicação de que o aparato foi desmontado vale mais como elemento narrativo de teoria da conspiratória, do que como fato comprovado. O lance negativo mais consistente quanto à credibilidade do caso adveio da avaliação das provas visuais trazidas pelo sacerdote. A famosa fotografia do rosto de Jesus, supostamente captada pelo Cronovisor, é apontada por muitos pesquisadores como estampa devocional amplamente difundida em atos religiosos. Isso serviu para erodir a argumentação esposada pelo padre Pellegrini. Além disso, a descrição da “tecnologia” do “Cronovisor” – antenas ajustáveis para captar frequências do passado – é cientificamente insustentável no ver de abonados estudiosos das leis da física.
Segundo eles, a física atual, mesmo em suas fronteiras teóricas como a física quântica e a cosmologia, não oferece mecanismo plausível para que resíduos eletromagnéticos de eventos milenares sejam sintonizados e convertidos em imagens e sons coesos. A tese do padre Pellegrino Maria Ernetti de que “no Universo nada se perde”, a se levar em conta o ponto de vista dos pesquisadores que classificam de “absurda, inverossímil e fantasiosa” a revelação sobre o Cronovisor, é apenas uma metáfora poética, não um princípio de engenharia funcional.
O fato de a lenda do Cronovisor persistir, apesar de contradições e falta evidências físicas, mostra a força que as narrativas de “segredos” e “conspirações” têm sobre a imaginação popular, especialmente quando envolvem pessoas e instituições poderosas, aqui e alhures. Voltaremos ao tema.
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