Decisões de Trump revelam tempos inquietantes

“Acho que vamos obtê-la” (Trump, aludindo à Groenlândia)
Tempos confusos e inquietantes. As conversações entre nações, habitualmente transcorridas de forma solene e regidas por protocolos diplomáticos, cedem lugar a enfezados bate-bocas, transmitidos ao vivo e a cores. Ou, então, são substituídas por recados curtos e grossos, cheios de azedume, postados em redes sociais.
O presidente Donald Trump e seu vice J.D Vance armaram emboscada para Zelensky, chefe do governo ucraniano. Atraíram-no ao famoso Salão Oval da Casa Branca com o fito de aplicar-lhe senhora descompostura. A humilhação foi vista com perplexidade por milhões de pessoas, em todos os continentes. O que se exigiu da Ucrânia foi rendição incondicional, com a entrega aos invasores russos das províncias ocupadas. Além disso, a título de compensação pela “ajuda” em armamentos utilizados na defesa do país, a sessão para exploração pelos Estados Unidos das jazidas minerais raras existentes em seu subsolo.
Quase que ao mesmo tempo, em discurso proferido no Legislativo estadunidense, o incorrigível Trump reafirmou sua disposição de ocupar a Groenlândia, “de um jeito ou de outro”. Reiterou, igualmente, a intenção de tomar o Canal do Panamá. Paralelamente à primeira visita oficial que fez ao Congresso, onde foi recebido com aplausos dos partidários e apupos dos adversários, Trump ordenou aos delegados de Washington na ONU que votassem contrariamente – ora, veja, pois! – a uma moção, aprovada pela maioria da Assembleia, condenando a Rússia pela invasão da Ucrânia. O voto dos EUA foi acompanhado apenas pelas delegações da Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Irã e Nicarágua.
Noutra vertente das estapafúrdias decisões que vem tomando, Trump tem deixado explícito, com “a guerra fiscal” deflagrada, o propósito de fomentar uma nova ordem econômica mundial, mesmo que isso implique numa recessão global. Fora e dentro dos Estados Unidos avolumam-se reações e discordâncias quanto aos seus posicionamentos.
Os países europeus, reafirmando apoio incondicional à Ucrânia invadida, anunciaram um projeto extraordinário de fortalecimento armamentista com custos equivalentes a 1/3 do PIB brasileiro, soma fabulosa em “tempos de paz”. A China, sobretaxando produtos estadunidenses em resposta à política tarifária de Washington, declarou-se de forma rude, nada diplomática, “pronta” para “qualquer tipo de guerra”… No Canadá, acumulam-se os protestos contra os atos e palavras do dirigente estadunidense.
Trump costuma chamar o 1° ministro do país irmão de “governador”, em alusão à descabida pretensão de anexar o Canadá. Pesquisa nos EUA sobre os primeiros 50 dias do governo apontou índice de desaprovação a Trump superior ao de aprovação, o que não é de se espantar. Uma coisa é certa: a confusão não vai parar por aqui.
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