Educação midiática e ação climática nas escolas
Os professores são hoje uma força estratégica na luta pela integridade da informação e pelo enfrentamento à crise climática. Uma pesquisa do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas, publicada em maio de 2024, revelou que educadores respondem por 60% do desempenho dos alunos, superando fatores como o acesso à internet, bibliotecas e escolaridade dos pais. Esse dado confirma o que muitos de nós já sabíamos por experiência: é também na sala de aula que se decide o futuro da aprendizagem e, portanto, o futuro do país.
Vivemos em uma sociedade hiperconectada, onde 55% dos brasileiros usam a internet como principal fonte de informação, segundo a TIC Domicílios, que tem o objetivo de mapear o acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC) nos domicílios urbanos e rurais do Brasil. Em um cenário em que conteúdos chegam por todos os lados, em múltiplos formatos e plataformas, o papel da escola vai muito além da transmissão de conhecimento: ela se torna um espaço de curadoria e de leitura crítica do mundo.
Nessa realidade, exercer uma cidadania plena é impossível sem dominar as habilidades que permitem navegar nas redes com autonomia e senso crítico. A educação midiática precisa ser tratada como tema transversal, que atravessa todas as áreas do conhecimento, e que se conecta, de forma direta, com os desafios climáticos.
A guerra de narrativas em torno das mudanças climáticas é um exemplo claro disso. Indústrias e grupos de interesse têm promovido campanhas de desinformação que semeiam dúvidas e atrasam ações urgentes. De acordo com a Organização das Nações Unidas, a desinformação climática é hoje um dos principais obstáculos à implementação de políticas ambientais eficazes. Termos como “aquecimento natural do planeta” ou “crise inventada” ainda circulam amplamente nas redes, sustentados por estratégias sofisticadas de manipulação de dados e pela criação de aparentes controvérsias científicas. Nessa disputa desigual, os professores estão na linha de frente: são eles que formam o pensamento crítico e científico das novas gerações, ajudando-as a reconhecer evidências, questionar fontes e compreender o que está em jogo.
Promover a integridade da informação é mais do que refutar boatos. É construir ambientes informativos confiáveis, onde prevaleçam transparência, ética e credibilidade. Significa compreender que o consumo de informação é um ato político. Escolher o que compartilhamos, checar o que reproduzimos e entender os impactos de cada mensagem fazem parte de uma cidadania ativa, conectada e responsável. Nesse contexto, a alfabetização midiática é uma aliada da alfabetização científica e ambiental: juntas, formam cidadãos preparados para compreender o planeta e para agir em defesa dele. E os educadores têm um papel insubstituível nesse processo — tanto como mediadores do conhecimento quanto como agentes de transformação social.
Com a COP30 sendo realizada em Belém, o tema também precisa estar dentro das escolas. Quando o professor integra as pautas do clima e da informação às suas aulas, ele oferece aos alunos ferramentas para consultar fontes confiáveis, como o IPCC, e identificar as narrativas enganosas que minam a ação coletiva.
Fortalecer o papel dos professores é fortalecer a democracia, a ciência e o planeta. São eles que formam as mentes capazes de compreender a complexidade do nosso tempo — e de agir sobre ela. A integridade da informação e o futuro do clima passam pela sala de aula.
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