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O encontro de Dom Alexandre com o governador Magalhães Pinto em abril de 64

Histórico episódio se deu no Palácio da Liberdade
O encontro de Dom Alexandre com o governador Magalhães Pinto em abril de 64
Foto: Reprodução YouTube

“Dom Alexandre, defendia com destemor, perante qualquer poder, o direito e a liberdade.” (Coronel PM José Vicente Bracarense)

Concluo a narrativa sobre as intervenções do Arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves Amaral, no enfrentamento das arbitrariedades cometidas nos chamados anos de chumbo. Falo, agora, do encontro do prelado, grande teólogo e orador, no Palácio da Liberdade, em abril de 64, com o governador Magalhães Pinto.

Do tenso encontro, a portas fechadas, foi testemunha ocular um parlamentar de saudosa memória, amigo fraternal, Hilo Andrade, Delegado Geral de Polícia, com brilhante folha de serviços. Hilo narrou-me a estupenda cena. Classificou o desempenho de Alexandre de uma grandeza moral e cívica jamais por ele, em momento algum, presenciada. Dá até para recompô-la.

De um lado, altivo nos gestos respeitosos e na postura serena, o inesquecível Alexandre, acompanhado do saudoso Pe Hiron Fleury Curado. Do outro lado, rodeado de assessores militares e civis, todo conciliador, o governador dos mineiros. O relato incandescente e vigoroso do Bispo. O ambiente solene em que se podia ouvir, nos intervalos do aceso diálogo, o zumbido de inseto. Um momento épico único, memorável na crônica dos direitos humanos. Alexandre, com seu verbo poderoso, deixou evidente a disposição de apelar para remédios extremos, contidos na legislação canônica, caso não fosse possível pôr cobro nos abusos que vinham sendo praticados em Uberaba e outras cidades de sua jurisdição episcopal.

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O governador entendeu o recado. Ordenou, na mesma hora, sem hesitações, a substituição imediata dos comandos policial, civil e militar, na região do Triângulo. O ilustre Coronel José Vicente Bracarense, do gabinete militar do Palácio da Liberdade, foi designado comandante do 4º BI. E deu, anos mais tarde, um depoimento elucidativo sobre as expressas ordens que lhe foram passadas, naquele dia, no sentido de que seguisse imediatamente para Uberaba de modo a “consertar aquilo lá”. Consertou. Ficou por lá. Nunca mais deixou a cidade. No final da audiência, Magalhães Pinto reteve o deputado Hilo para sussurrar-lhe, comovido: “Esse Dom Alexandre! Que homem, hein Hilo?” Hilo Andrade narrou-me os fatos com os olhos marejados, fazendo força para conter a emoção.

Este Dom Alexandre foi um autêntico homem de Deus. Homem na acepção mais completa da palavra, símbolo de apostolicidade e desassombro cívico. Patrocinador da Ação Católica, defensor dos direitos humanos, acreditava em princípios e, justamente por isso, arrostou galhardamente a prepotência e os atentados aos direitos fundamentais em momentos trevosos da história.

Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, esteve em Uberaba para manifestar gratidão a Alexandre em nome do Laicato católico, pela posição que adotou frente ao arbítrio.

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