Como um engenheiro brasileiro foi reconhecido na Alemanha

Notícia recente publicada em jornal paulista nos informa sobre um engenheiro mecânico brasileiro especializado em software que faz sucesso na Alemanha. Parabéns para nosso conterrâneo reconhecido em país tão importante. É lamentável que ele não brilhe aqui. A notícia surpreendeu-me e comecei a pensar como um país que já recebeu dezenas de prêmios Nobel, que tinha um gênio chamado Von Braun, mais tarde diretor da Nasa e cujo sonho realizado nos Estados Unidos era enviar alguém à Lua, estava louvando nosso engenheiro. Fiquei orgulhoso dele. Pensei como a velha Alemanha de Bismark, dona de milhares de patentes e cujas fábricas foram desmontadas durante a II Grande Guerra levadas para a antiga União Soviética e reconstruídas depois no país derrotado, chega a elogiar e contratar engenheiro estrangeiro tantas décadas depois.
Durante alguns dias pensei nas razões de isso estar acontecendo no país de Goethe. A única explicação que encontrei foi o trauma do massacre de 60 milhões de pessoas durante a II Grande Guerra, incluindo 25 milhões de russos, nove milhões de alemães, seis milhões de judeus, um milhão de ciganos e homossexuais, afora os cidadãos britânicos, soldados americanos, franceses, poloneses, filipinos, japoneses, italianos, canadenses e brasileiros, compreendendo a avassaladora maioria de jovens, milhares deles com futuro brilhante e que desapareceram para sempre. Tantas mortes de jovens criou um vazio intelectual nos países envolvidos, em especial entre alemães, russos e israelenses. Uma geração inteira assassinada, alguns poucos sobreviventes que ficaram perplexos durante anos e demorou uma nova leva de europeus para perder a paralisação que a perplexidade nos causa.
Entre essa montanha de seres humanos mortos penso na potencialidade de artistas, escritores, engenheiros, músicos, compositores, empreendedores, médicos, cientistas, pesquisadores que não tiveram tempo e nem oportunidade de mostrar seus talentos e deixaram de criar obras imortais como foram os europeus, judeus e russos no passado. Com a morte de tantas pessoas, a Europa empobreceu intelectual e financeiramente, incluindo aqueles países vitoriosos. Intelectualmente por que durante mais de cinco anos de guerra poucas obras foram criadas em comparação com o glorioso passado europeu. Nas finanças a guerra deixou quase todos (exceto os americanos) falidos, uma “vitória de Pirro” para os outros por que guerra custa caro demais. Perguntem ao Jelensky e ao Putin hoje.
Por tudo isso, não é de se admirar que ouvimos com frequência que a Europa Ocidental está decadente. Ela continua sofrendo até hoje as consequências de tudo que foi do seu passado devastador. Sim, houve recuperação com o Plano Marshal em vários países, muitas cidades, fábricas e prédios reconstruídos, por que os americanos pensam em longo prazo e sabiam que os europeus se recuperariam e seriam os compradores de seus produtos. O Plano foi para reconstruir tudo que todos haviam destruído. Só não reconstruíram o que o mundo perdeu de criação intelectual em pelo menos uma geração e meia de jovens perecidos.
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