Entre os Brics e o G20: a ambígua postura brasileira

O Grupo dos 20 (G20) é um fórum internacional formado pelas principais economias do mundo, que reúne economias avançadas e emergentes. Criado em resposta às crises financeiras dos anos 1990, o G20 inclui 19 países e a União Europeia, representando aproximadamente 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e cerca de dois terços da população global.
O G20 tem como principal objetivo promover a cooperação econômica internacional e discutir temas que impactam a estabilidade econômica global. Suas atividades ocorrem por meio de reuniões anuais entre chefes de Estado dos países membros, além de encontros entre ministros de finanças e presidentes de bancos centrais. O G20 opera com uma presidência rotativa anual, na qual o país anfitrião define a agenda de discussões. Essa estrutura informal permite que o G20 responda rapidamente a crises e questões emergentes na economia global.
Até o final de 2024, a presidência do grupo está a cargo do Brasil, que colocou como temas centrais o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global.
A ênfase do Brasil nesses temas pode ser vista como uma tentativa de reposicionar o país como líder na agenda de desenvolvimento e ponte entre o Norte e o Sul globais. Essa postura alinha o Brasil a outras nações emergentes que buscam uma ordem internacional mais multipolar e representa uma crítica indireta à forma como as economias desenvolvidas têm tratado questões de desigualdade e meio ambiente.
Entretanto, essa pauta para a presidência do G20 pode parecer inconsistente frente à participação brasileira nos Brics — que recentemente expandiu-se para incluir regimes autoritários com baixo comprometimento com os direitos humanos. A postura do Brasil reflete uma tentativa de equilibrar sua influência em dois blocos com ideologias e visões distintas: o G20, mais alinhado com democracias liberais e valores ocidentais, e os Brics, um agrupamento diverso que inclui Estados que desafiam normas de direitos humanos e governança.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
A aproximação com regimes autoritários pode ser vista como uma estratégia pragmática em que o Brasil busca maximizar seus interesses nacionais, diversificar alianças e ampliar sua influência global. Contudo, essa postura coloca o país em uma posição ambígua, especialmente ao se apresentar como defensor da democracia e dos direitos humanos em fóruns como o G20. Um exemplo crescente é o reconhecimento, pelo partido do presidente Lula, da vitória do ditador venezuelano Nicolás Maduro, em eleições amplamente contestadas.
O geopolítico Zbigniew Brzezinski argumenta que alianças com regimes autoritários podem resultar em afastamento de aliados ocidentais e marginalização em fóruns que priorizam os direitos democráticos. Ao se aproximar de países como Irã, Arábia Saudita e Rússia, o Brasil pode perder parte do apoio das potências ocidentais.
Independentemente da presidência brasileira e sua postura ambígua, o G20 enfrenta desafios e limitações. Como fórum informal, suas decisões não têm poder vinculante. A implementação das resoluções depende da vontade política e da capacidade dos países membros, já que seus compromissos se baseiam no consenso, sem garantias de cumprimento.
Além disso, as crescentes tensões geopolíticas entre os membros do G20, como a rivalidade entre Estados Unidos e China e as questões ligadas à invasão russa da Ucrânia, representam obstáculos à construção de consensos. As diferenças políticas e econômicas dificultam soluções conjuntas para desafios globais. Apesar dessas limitações, o G20 permanece um fórum influente, cuja presidência o Brasil parece não aproveitar plenamente para estreitar laços comerciais com outras nações.
Ouça a rádio de Minas