Expressões da beleza

Degustar as belezas da existência tem raízes profundas no âmago do ser. Transborda-se através dos sentidos e sentimentos a percepção de sinais ora evidentes ora camuflados das partículas coirmãs à nossa volta e que estão conectadas conosco. A matéria de que somos feitos sente a vibração de outros elementos da natureza com os quais tem sintonia. Assim, fazemos certas escolhas teleguiados por nosso DNA.
O sopro da vida nos brinda com a consciência como quintessência diferencial da nossa matéria. Outras matérias, mesmo não tendo vivacidade possuem propriedades regidas pelo maestro do universo. Estas mesmas leis e propriedades se aplicam a tudo e a todos. É muito interessante como os números têm uma correlação mágica na natureza e em nossa vida. Além do número sete que expressa seu encanto nas sete notas musicais e sete cores do arco-íris, outros números, tais como o número pi (π), o número áureo (φ), o número “e” (base do logaritmo natural), e os números primos estão inseridos em nossa trajetória.
O pi é uma constante irracional e transcendental que evoca um senso de mistério e fascínio. A forma circular do corpo humano tal como os braços, tronco e membros segue a proporção do pi. Este número é usado em diversas áreas da Medicina, como na radiologia, anatomia e nas proporções corporais. Está presente em centenas de fórmulas matemáticas que calculam o volume dos órgãos ou estruturas internas como o coração, pulmão, ossos e outros tecidos. No mundo vegetal o número pi estabelece a relação entre o diâmetro e a circunferência de um caule ou tronco e descreve a curvatura das pétalas e flores.
O número áureo, descrito pela letra grega Phi (φ), foi descrito pela primeira vez por Euclides em sua obra “Os Elementos”. Corresponde arredondando-se a 1,6180. A proporção entre o comprimento dos braços e a altura total do corpo obedece a esta proporção. Está incrivelmente presente nos traços que chamam a atenção da beleza do rosto. Pois a distância entre o queixo e a base do nariz deve ser a mesma distância da base do nariz até a parte inferior da testa. Esta mesma medida deve ser também o tamanho da testa e da orelha. O nariz tem a mesma largura do olho, e essa medida também é a distância entre um olho e outro. É também uma proporção áurea a altura total e a distância do umbigo aos pés. Apesar de parecer complexo, qualquer forma de perda destas harmonias não consegue passar despercebida de nosso senso comum, que nasceu calibrado nestas expectativas, fazendo parte de nossa inteligência natural.
O número “e” é uma constante matemática aproximadamente igual a 2.71828, que é a base do logaritmo natural (ln). Ele está relacionado a taxas de crescimento exponencial, um fenômeno frequente em muitos aspectos de populações biológicas, como o crescimento de bactérias ou o crescimento de uma população de animais, a taxa de decaimento radioativo de certos elementos químicos, a distribuição do que chamamos de normal nos indivíduos tal como ocorre na estatura humana, peso corporal e variações genéticas. É interessante como a forma espiral das conchas dos moluscos, como as conchas dos caracóis, segue uma curva logarítmica relacionada ao número “e”. Outros fenômenos relacionados a este número estão presentes na curva de absorção de nutrientes pelo intestino delgado e meias-vidas de uma substância no organismo. Até a função dos neurônios no cérebro que escreve ou lê este artigo está modelada pelas equações diferenciais que incluem o número “e” para elucidar seu comportamento de transmissão e processamento elétrico.
Já os números primos expressam seu encanto ao serem observados em diversos fenômenos e padrões. Por exemplo no arranjo das pétalas das flores, como os lírios com três pétalas, margaridas com treze pétalas ou flores de amor-perfeito com cinco pétalas. As espirais em cones dos pinheiros apresentam sequências numéricas relacionadas aos números primos, como a famosa série de Fibonacci. Certas frutas, como maçãs ou laranjas apresentam arranjos das sementes em números primos. No mundo animal os números primos estão presentes no padrão das manchas das girafas, nas impressões digitais dos humanos, na distribuição dos pelos no corpo e em várias sequências específicas do DNA.
Os números pi, áureo, “e” e primos têm correlação com a teoria dos fractais que são padrões matemáticos, expressos geometricamente na natureza em sua estrutura de repetição do macro ao micro em diferentes escalas. Equivale ao comparativo do desenho do átomo ao sistema solar, e em toda a estruturação da construção do ser humano com seus padrões de ramificação e autossimilaridade. Por exemplo, ao se observar partes menores de um vaso sanguíneo, ele se assemelha a estrutura de ramificação dos vasos maiores e assim por diante. Este mesmo arranjo, entretanto, cada um com suas características exclusivas vale para o pulmão, rim, ossos, tendões etc. O arranjo repetitivo, mas de menor escala é um segredo do Universo para a eficiência, resistência física com flexibilidade e otimização do gasto de energia para manutenção.
A expressão mais forte do segredo para a felicidade e êxito da Natureza se revela na trama, da maior à menor. A repetição insistente dos modelos caminha até chegar ao indivisível. Na língua falada corresponde a “Sinônimos” como bem canta Zé Ramalho: “Sinônimo de amor é amar”. Toca-nos, pois é também simples e maravilhosamente fractal.
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