O fascino humano pelo mistério e a ciência
“O homem que não tem os olhos abertos para o mistério passará pela vida sem ver nada.” (Albert Eisnten)
Como é de se imaginar, a envolvente e intrigante historia do Cronovisor, trazido à tona na segunda metade do século XX, produziu torrente caudalosa de informações, versões e teorias. As inexplicabilidades da aventura humana fazem por onde, vezes sem conta, gerar fatos capazes de estremecer o conhecimento consolidado.
O padre francês François Brune, cientista, estudioso dos chamados fenômenos transcendentes, deu guarida instantânea à fabulosa historia contada pelo padre Pellegrino Maria Ernetti., acerca de sua invenção, com o concurso de outros cientistas, da máquina do tempo que o Vaticano teria confiscado. Autor de vários livros, François dedicou um deles para narrar a experiência, tornando-se o grande divulgador do Cronovisor, fomentando assim o debate em larga escala suscitado pela inacreditável experiência.
Do processo de desconstrução das alegações sustentadas por padre Pellegrini consta que, em seu leito de morte, ele teria confessado que o invento não era real, tudo não passaria de um “aviso moral”, metáfora criada para advertir a humanidade acerca dos riscos que rondam o mundo diante dos avanços tecnológicos fora do controle ético. A bem da verdade, esclareça-se que o padre François (falecido em 2019) refutou veementemente esse registro crítico.
Estudiosos do caso do Cronovisor, conforme extraído de textos de jornais europeus da época, são de parecer que independentemente de ser verdade ou não, a alegação atribuída a Pellegrini adiciona uma camada de complexidade à lenda, transformando o cientista/padre em um moralista que teria utilizado “o invento” como ferramenta pedagógica. De acordo ainda com as mesmas fontes de consulta, a lenda do confisco e desmantelamento do artefato, por determinação do Papa Pio XII, é igualmente poderosa, pois toca na veia “conspiratória das correntes de opinião”. A lenda insinua que a verdade, seja ela qual for, é perigosa demais para ser revelada. Mostra a religião como uma força que opta, conforme as circunstâncias, pela censura, retardando o conhecimento. Isso alimenta a desconfiança popular e acaba consolidando o Cronovisor como um símbolo da informação oculta. É desse tecido que se fazem as “teorias da conspiração”.
Encurtando razões, o Cronovisor funcionaria como uma metáfora que se locomove entre fé e razão. Confronta-nos com a vontade de crer na tecnologia milagrosa e, conjuntamente com o ceticismo racional. Sua persistência na cultura popular — inspirando livros, filmes e teorias — assegura que, embora o dispositivo físico jamais tenha sido visto, a lenda do Cronovisor continuará a ser um farol que ilumina a interligação misteriosa entre o que sabemos, o que queremos acreditar e o que a história avaramente guarda.
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