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Golpe no INSS: roubo dos aposentados num país anestesiado

O que o País assistiu foi um atentado à dignidade humana
Golpe no INSS: roubo dos aposentados num país anestesiado
Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil

A revelação de que milhões de aposentados e pensionistas do INSS foram lesados por meio de descontos indevidos em seus contracheques entre 2019 e 2024 revela talvez o episódio recente de maior grau de perversidade contra a parcela mais vulnerável da população brasileira, da qual foram tiradas pelo menos R$ 6,3 bilhões.

Choca pela sua crueldade e desfaçatez porque roubou dinheiro das já minguadas aposentadorias e pensões de quem depende desses recursos para sobreviver na fase mais crítica da existência – velhice, doença, invalidez, ou morte do ente querido. E é inaceitável por se concretizar justamente no pilar da seguridade social brasileira, o INSS, concebido para amparar os cidadãos nos momentos de maior necessidade e que, para isso, contribuíram a vida inteira para ter direito aos benefícios sociais.

O que o País assistiu, estupefato, não foi um apenas um ato administrativo falho ou simples roubo. Foi um atentado à dignidade humana, praticado justamente contra aqueles que não possuem reservas financeiras, que não têm advogados caros à disposição, que dependem de cada centavo, afetando a própria capacidade de subsistência daqueles que não têm a quem mais recorrer.

São pessoas que já sofreram demais com um sistema previdenciário lento e falho, caracterizado por filas intermináveis (reais ou virtuais), exigências burocráticas descabidas, sistemas digitais inacessíveis para grande parte da população, e análise de processos que levam meses ou anos, enquanto a fome bate à porta e os remédios acabam. O sistema parece ter esquecido sua função social para os que mais precisam de um caminho direto e humano e, em vez de amparo social, veem, impotentes, benefícios negados ou postergados por erros grosseiros. Mais uma consequência de uma máquina burocrática que é gigante e, para o cidadão comum, impessoal e inatingível.

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Mas como esse país chegou a tal nível de crueldade? A resposta parece estar na certeza da impunidade. Poucos servidores são de fato responsáveis pelos atrasos, erros, e falta de atendimento humanizado. As decisões que prejudicam milhares de pessoas raras vezes resultam em consequências severas. Cria-se um círculo vicioso onde o descaso é normalizado, pois não há punição efetiva.

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