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Os impactos da reforma tributária no setor de combustíveis

Atualmente, setor já está inserido em uma série de tributos ao longo de sua cadeia produtiva
Os impactos da reforma tributária no setor de combustíveis
Crédito: Reprodução Adobe Stock

A reforma tributária em discussão no Brasil promete transformar a maneira como os tributos sobre combustíveis são cobrados e pagos no País. Embora simplificação e eficiência sejam palavras de ordem, as mudanças terão impactos diretos na economia, nos custos de transporte e no bolso de milhões de brasileiros. Mas, afinal, o que tudo isso significa?

Atualmente, os combustíveis estão sujeitos a uma série de tributos ao longo de sua cadeia produtiva, o que muitas vezes resulta em preços mais altos para o consumidor final. A nova proposta visa simplificar esse processo com a chamada tributação monofásica. Isso significa que o imposto será cobrado apenas em um ponto da cadeia produtiva, geralmente no produtor ou importador, antes de chegar aos postos. Na prática, isso pode reduzir custos administrativos e aumentar a transparência nos preços. No entanto, a forma como as alíquotas serão calibradas terá grande influência sobre os preços finais. Por exemplo, enquanto o etanol continuará com vantagens tributárias para estimular seu consumo como alternativa mais sustentável, combustíveis fósseis como gasolina e diesel podem enfrentar tributação mais pesada, especialmente devido à introdução do novo Imposto Seletivo.

O Imposto Seletivo é uma novidade da reforma tributária e incidirá sobre produtos que prejudicam a saúde ou o meio ambiente. A ideia é desestimular o consumo desses produtos e promover alternativas mais sustentáveis. Contudo, se mal regulamentado, esse imposto pode encarecer o transporte e gerar um efeito cascata nos preços de bens de consumo, como alimentos e itens essenciais. No Brasil, onde a maior parte da carga é transportada por caminhões movidos a diesel, qualquer tropeço do legislador tem o potencial de impactar toda a economia. Por isso, é essencial que equilibrar a necessidade entre maior sustentabilidade ambiental e proteção do poder de compra das famílias.

Um desafio adicional será alinhar a nova tributação ao mercado de carbono. Esse mercado já permite que empresas compensem suas emissões de gases de efeito estufa comprando créditos de carbono, incentivando práticas mais sustentáveis. No entanto a lei que regula este mercado proíbe que tributação e regulação se sobreponham quando se trata de emissões de gases efeito estufa. Isso significa que, ao implementar o Imposto Seletivo, o governo precisará garantir que ele complemente e não substitua ou conflite com o mercado de carbono. Esse equilíbrio será crucial para garantir que as metas ambientais do País sejam atingidas sem criar novas distorções econômicas.

Além de questões ambientais, o impacto direto no bolso dos consumidores não pode ser ignorado. O transporte rodoviário é a espinha dorsal da distribuição de mercadorias no Brasil. Um aumento nos preços do diesel, por exemplo, pode levar à alta de diversos produtos, pressionando ainda mais a inflação, juros e dólar. Por outro lado, a simplificação da cobrança de tributos pode evitar distorções e tornar os preços mais previsíveis, beneficiando os consumidores no longo prazo. O sucesso da reforma dependerá da calibragem precisa das alíquotas e da transparência na aplicação dos recursos arrecadados.

A reforma tributária representa uma oportunidade única para modernizar o sistema fiscal brasileiro e torná-lo mais justo e eficiente. No entanto, o desafio será enorme: equilibrar a arrecadação necessária para sustentar os serviços públicos com a promoção de uma economia mais sustentável e competitiva. Se bem implementada, a reforma pode reduzir desigualdades, incentivar práticas ambientais responsáveis e aumentar a competitividade do Brasil. Porém, o governo precisará atuar com precisão cirúrgica para evitar que os custos recaiam desproporcionalmente sobre as famílias ou comprometam a economia em um momento de recuperação.

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