Impactos do tarifaço para os negócios no Brasil

Como especialista em contabilidade, gestão empresarial e wealth management, nao poderia me furtar a tecer uma análise pragmática sobre como a sanção tarifária de 50% sobre as importações brasileiras, aplicada pelos Estados Unidos.
Como se sabe, entre os setores mais afetados, destaca-se o de alimentos. Outros, até então ameaçados, entraram em uma lista de exceções. A sanção tarifária também está ligada à desvalorização do real e ao aumento do dólar, que podem pressionar custos internos e inflação, forçando o Banco Central a manter a Selic elevada. Em paralelo, a maior oferta doméstica de produtos, causada pela adaptação dos exportadores à demanda interna, pode ter um efeito desinflacionário pontual.
O fato é que a escalada tarifária aumenta incertezas, reduz a confiança de investidores e pode frear investimentos produtivos e fluxo de capitais. Dessa forma, as empresas brasileiras exportadoras terão suas margens reduzidas ou perderão contratos. Já as empresas norte-americanas presentes no Brasil devem ver suas cadeias de suprimentos ofertando insumos importados dos EUA muito mais caros, tornando o custo total dos produtos mais elevado. O e-commerce brasileiro também deve receber impactos, sobretudo os importadores que operam via dropshipping ou revenda de eletrônicos vindos dos EUA e da China, já que terão margens muito mais apertadas e modelos de negócios pressionados.
Entre as estratégias para adaptação a essa nova realidade, devemos considerar o redirecionamento de exportações para países da União Europeia, da Ásia e da América Latina. As empresas que oferecem itens de maior valor agregado devem buscar fusões, parcerias ou abertura de unidades de fabricação offshore. Outra saída é olhar mais para as oportunidades no mercado interno brasileiro ou regional, aproveitando o enfraquecimento de concorrentes importadores impactados pelas tarifas.
As ações jurídicas e diplomáticas não estão descartadas, caso da abertura de recurso na Organização Mundial do Comércio (OMC), aplicação da Lei de Reciprocidade Comercial e possível imposição de tarifas de resposta sobre produtos americanos. Também deve ser avaliada uma reestruturação contábil e fiscal por parte das empresas, que devem revisar a classificação tarifária, prazos contratuais, manter compliance regulatório rígido e adotar planejamento tributário estratégico para atenuar impacto na margem líquida.
Recomendamos que as empresas trabalhem no fortalecimento da governança e de wealth management e que aquelas com exposição cambial e trade finance reforcem hedge de moedas e prazos de recebíveis, planejem liquidez e reavaliem projeções de fluxo de caixa considerando perdas sustentadas ou realinhamento de clientes.
É inegável que o tarifaço representa um choque macro e setorial relevante para o Brasil. Empresas que tiverem ágil adaptação de cadeia, boa gestão de risco e presença robusta nos mercados doméstico ou em outros players internacionais podem atravessar essa crise com resiliência, convertendo risco em oportunidade num cenário de reconfiguração corporativa global. O tarifaço pode catalisar transformações estratégicas no Brasil ao forçar grupos empresariais e gestores patrimoniais a repensar estruturas, realocar investimentos e fortalecer resiliência operacional. O futuro das empresas brasileiras perante esse choque dependerá de decisões planejadas, ágeis e bem coordenadas com visão e planejamento contábil e de wealth management.
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