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Indicadores para avaliar a sustentabilidade enfrentam um desafio de métrica

É preciso que haja parâmetros de fácil entendimento e aplicação nos vários setores econômicos
Indicadores para avaliar a sustentabilidade enfrentam um desafio de métrica
Crédito: Reprodução Pexels

Dois nomes são referência para a reflexão que aqui ouso propor. José Eli da Veiga, com seu recente livro O Antropoceno e o Pensamento Econômico, e o Prof. José Israel Vargas, principal agente da criação da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, o Cetec – instituição multifacetária, que teve como objetivo promover o crescimento econômico e social do Estado. Vargas, que nos deixou recentemente e agora ingressa no rol dos grandes mineiros dardejados pela História, por meio do Cetec foi inovador em diversas áreas, com destaque para a criação de setores especializados, como o Desenho Industrial e o Meio Ambiente.

Assim, os preceitos da inovação e economia fortalecem, em mim, a aposta preponderante em ferramentas e mecanismos econômicos para uma gestão ambiental com eficiência e eficácia. Eli da Veiga, ao expor as bases de seu mais recente livro, afirma que “nada exprime melhor a utopia do século 21 que os 17 ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)” e que é “exatamente no pensamento econômico que se encontram as fontes mais férteis das quais essa utopia se alimenta”.

Pois bem. Dentre as ferramentas econômicas, destaco o que está, nesse momento no Brasil, em discussão a Taxonomia Verde ou Sustentável. Conforme a definição da Associação Internacional de Mercado de Capitais (ICMA, 2021), essa taxonomia estabelece critérios e indicadores que permitem avaliar e caracterizar se uma atividade promove a sustentabilidade e, assim, mobilizar e redirecionar, de forma segura, os fluxos de capitais para investimentos na agenda ESG. Seu traço, e seu maior desafio, é definir métricas monitoráveis, verificáveis e reportáveis e que, ao mesmo tempo, sejam de fácil entendimento e aplicação nos vários setores econômicos. Com essas diretrizes, nas discussões dos critérios, todas relacionadas aos objetivos climáticos, podemos perceber a predominância de definição de métricas para a mitigação dos gases de efeito estufa e ações associadas à regeneração e proteção das áreas verdes.

Ao meu sentir, considerando que 80% das emissões globais saem de 57 empresas que estão em 34 países, melhor faria o Brasil se, sem desconsiderar a questão do desmatamento ilegal na agenda de mitigação, concentrasse investimentos e esforços na agenda de adaptação às mudanças climáticas. Daí minha proposta para reflexão.

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Vejam bem. Em nosso País, todos os impactos negativos, oriundos ou exemplificados pelas alterações climáticas, se expressam de duas formas: água demais (cheias e inundações) ou água de menos (escassez e seca). Portanto, todos os nossos esforços deveriam se concentrar em ações de preparação de nossas cidades, nossas economias, nossas comunidades para a resiliência e adaptação a essas duas adversidades.

A reflexão lançada: E se fosse água? Isto é, se ao invés de Taxonomia Verde e todas suas multivariáveis reforçássemos nosso olhar sobre uma Taxonomia Azul, de uma variável, água, e caracterizada pela promoção e implementação de ações claras e objetivas que promovessem adaptação e resiliência? Eis que já temos nas ciências hídricas muitos avanços em métricas consolidadas, para avaliar o enfrentamento das cheias e escassez nos ambientes rural, urbano e industrial, de fácil aplicação e entendimento.

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