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Inteligência coletiva: fazendo negócios nos tempos da colaboração e cocriação

"Sei que como dono de uma empresa, às vezes é difícil delegar a funções que são tão caras ao negócio, mas garanto que descentralizar as decisões ajudará."
Inteligência coletiva: fazendo negócios nos tempos da colaboração e cocriação
Crédito: Redd F/Unsplash

A dinâmica contemporânea dos negócios exige das empresas uma inteligência coletiva. Dificilmente você resolverá todos os seus processos ou problemas internamente, por isso é crucial criar uma boa rede de fornecedores, parceiros, consultores em todas as áreas pertinentes ao seu negócio. Pode levar algum tempo para formar uma rede de qualidade, mas valerá a pena.

Eu, por exemplo, sou especialista em estratégia de comunicação, mas não em recrutamento. Para fazer seleção e recrutamento, contrato uma empresa de Recursos Humanos com o objetivo de encontrar os candidatos ideais para minha equipe. Eu poderia não gastar com isso, mas errar no recrutamento sai muito caro: traz problemas com os clientes, retrabalho e até processo de demissão e nova admissão de outro profissional. Sei que como dono de uma empresa, às vezes é difícil delegar a funções que são tão caras ao negócio, mas garanto que descentralizar as decisões ajudará.

Voltando ao exemplo do recrutamento, é comum ter medo de não encontrar as pessoas ideais quando não estamos totalmente envolvidos na escolha. Mas, veja, à empresa de RH eu deixo todos os pré-requisitos para que um profissional entre na minha empresa e todas as habilidades necessárias para a vaga disponível, porém, entre todas as sugestões, a decisão final será sempre minha. Crie um filtro do que você quer para sua empresa e depois faça uma entrevista final com quem passar por ele. Esse filtro vai variar de negócio a negócio: pontualidade versus flexibilidade, alta produtividade versus tempo para criatividade e assim por diante.

Esse olhar externo também é utilíssimo para a resolução de problemas complexos. Depois de muitos testes, há mais de dez anos o nosso método de “problem solving” se baseia em inteligência coletiva e foi aplicado em mais de 100 de todo nível de complexidade. Para dar certo, é preciso ter duas coisas: uma pessoa de dentro da organização que entenda bem o problema e possa fornecer informações e dados acurados; e uma pessoa de fora da organização que seja capacitada para conduzir os processos de elaboração de soluções na área em questão. A pessoa de dentro é o que chamamos de guardiã da marca, é ela que vai se responsabilizar por aquele problema sem perder de vista a identidade da organização. Já a pessoa de fora traz um olhar desprendido e sem vícios, de onde surgem as provocações para solucionar o problema.

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Problem solving e Problem framing

Antes do “problem solving” é interessante passar pelo “problem framing“, que é enquadrar o problema de forma correta, ou seja, na área em que ele realmente está. Uma empresa pode, por exemplo, contratar uma agência de comunicação para criar uma campanha de divulgação de um produto que está vendendo pouco. A empresa acredita que o erro está em uma campanha fraca, enquanto o verdadeiro erro pode estar no produto ou na abordagem da equipe de vendas. Dessa forma, a agência de comunicação criaria uma campanha que, por melhor que fosse, não aumentaria as vendas, uma vez que o problema está em outra área.

Uma dinâmica que envolve inteligência coletiva e que sugiro para a solução de problemas são os workshops de ideação. Nele se reúne uma equipe diversa (interna e externa) que fará conexões criativas, desenvolvendo várias ideias que solucionariam o mesmo problema. Quero lembrar que essas inovações não precisam ser radicais, elas podem ser a adaptação de uma solução que deu certo em outro mercado. Por exemplo, o iFood nada mais é do que a solução da Uber para o transporte de pessoas, mas, no lugar, faz o transporte de refeições. A Uber é uma lógica que foi expandida para muitos negócios — não só de transporte, mas também de alimentação, saúde e varejo — , então por que não usaríamos de outras lógicas de sucesso para o nosso? 

Esteja atento aos cases de sucesso, abra a mente para opiniões externas e destrave o poder do trabalho em rede. Somente a inteligência coletiva é capaz de resolver os problemas de um mundo cada vez mais complexo, fazendo a diferença na vida das empresas e das pessoas.

Calebe Bezerra é CEO da Calebe_, escritório de comunicação e estratégia que integra a matter&Co., o primeiro ecossistema de inteligência de negócios da América Latina.
Crédito: Divulgação

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