Investigação sobre aplicação da LGPD coloca empresas brasileiras sob pressão

O governo dos Estados Unidos anunciou neste mês uma investigação contra o Brasil por suposta “barreira injusta ao comércio” devido à forma como nosso país aplica a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). O argumento norte-americano é o de que o Brasil impõe restrições excessivamente amplas à transferência de dados pessoais para fora do território nacional, inclusive para os Estados Unidos, que podem não considerar adequadamente finalidades comerciais rotineiras. Tais restrições podem impedir que uma empresa processe dados com segurança ou preste serviços a partir de servidores localizados nos Estados Unidos.
O Brasil está, sim, em processo de alinhamento à lógica internacional de proteção de dados. A LGPD é inspirada no modelo europeu (GDPR) e prevê mecanismos como as cláusulas-padrão para transferência internacional de dados, exigindo transparência e segurança jurídica nas relações comerciais. O prazo para as empresas se adaptarem às novas exigências quando se tratar do referido mecanismo vai até 23 de agosto.
É importante lembrar que não se trata de um entrave ao comércio, mas de um pilar essencial de conformidade global. O Brasil não exige que empresas americanas cumpram exigências que não estejam já previstas em outras legislações de referência mundial. Aliás, boa parte das obrigações listadas nas cláusulas brasileiras é compatível com o que o próprio GDPR demanda — e que diversas companhias norte-americanas já cumprem para operar na Europa.
Para muitas organizações estrangeiras, especialmente as pequenas e médias, o arcabouço legal brasileiro ainda parece confuso.
Do ponto de vista brasileiro, o País tem buscado construir uma reputação sólida em proteção de dados — inclusive para conquistar a tão desejada “adequação” junto à União Europeia. Fragilizar esse posicionamento agora pode gerar consequências para a segurança jurídica de todo o ecossistema digital e limitar nossa inserção em cadeias globais de inovação e serviços.
Para as empresas brasileiras, o recado é claro: adequar-se à LGPD não é apenas uma exigência legal local, mas uma credencial para acessar o mercado global. Cumprir as regras de transferência internacional significa mostrar maturidade, comprometimento e capacidade de gestão de riscos.
E sim, ainda que o debate entre os governos continue, a responsabilidade pela conformidade permanece nas mãos das organizações.
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