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Lições de Dubai e expectativas para o futuro do Vale da Eletrônica

Região tem potencial para dialogar com polos globais como Dubai
Lições de Dubai e expectativas para o futuro do Vale da Eletrônica
Crédito: Divulgação

Quando aceitei o desafio de liderar a Missão Ásia, organizada pelo Sindvel em parceria com o Sebrae-MG, entre 6 e 20 de outubro, sabia que não estaríamos apenas representando Santa Rita do Sapucaí internacionalmente. Assumimos a responsabilidade de buscar caminhos reais para fortalecer a competitividade do Vale da Eletrônica em um mercado globalizado. A instabilidade tributária e os entraves estruturais do Brasil limitam a expansão industrial, por isso essa missão é estratégica: identificar fornecedores diretos, novas rotas produtivas e oportunidades de internacionalização.

Nossa primeira imersão em Dubai revelou muito mais que arranha-céus. A cidade se consolidou como hub global de negócios, tecnologia e logística, construída sobre uma visão clara de futuro. De país dependente do petróleo a potência desburocratizada e inovadora, Dubai oferece Zonas Francas com legislações inspiradas no modelo inglês, segurança jurídica, agilidade e tributação competitiva — o IVA é de apenas 5%. Produtos “Made in Dubai” recebem automaticamente incentivos logísticos, tributários e de exportação. Produzir aqui permite acessar mercados árabes, asiáticos, europeus, africanos e americanos com vantagens.

Muitos imaginam barreiras culturais, mas Dubai fala a língua dos negócios. O inglês é o idioma oficial e o ambiente cosmopolita favorece conexões. A presença feminina impressiona: mais de 60% dos cargos de liderança no governo são ocupados por mulheres. O Estado atua como curador do ecossistema, estimulando a iniciativa privada e premiando resultados. A Câmara de Comércio, sem fins lucrativos, foca na atração de investimentos e na redução de barreiras, com mais de 40 escritórios no mundo para acelerar a instalação de empresas.

Chamou-me a atenção a valorização do conceito de cluster produtivo — exatamente como fazemos em Santa Rita desde os anos 1980, o que nos levou ao reconhecimento como APL-04 e Parque Tecnológico Aberto. Dubai busca ecossistemas, cadeias complementares e conhecimento compartilhado. Entendem que a competitividade nasce da cooperação. Mesmo com regras rígidas para trabalhadores estrangeiros, investidores internacionais podem deter 100% de seus negócios — sinal claro de abertura à inovação global.

Outro ponto marcante é a cultura do relacionamento. Em Dubai, networking é política industrial. Empresas crescem por reconhecimento e indicação. Projetos bem referenciados atraem fundos privados, recursos governamentais e até investimentos da família real. Startups precisam gerar receita, pagar aluguel e contribuir para o ecossistema, combinando pragmatismo e inovação.

Concluo este primeiro trecho da missão com a certeza de que o Vale da Eletrônica tem potencial para dialogar com polos globais como Dubai. Mas é necessário avançar. Não basta exportar produtos; é preciso exportar presença, marca e tecnologia. Devemos negociar diretamente com fabricantes de semicondutores, reduzir intermediários e considerar bases internacionais como estratégia de expansão — não como fuga.

A missão que lidero não trata de romper raízes, mas de garantir espaço para crescer além das fronteiras. Se queremos um legado industrial duradouro, precisamos pensar como players globais. Em Dubai, aprendi algo essencial: lideranças são passageiras, mas movimentos coletivos transformam gerações.

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