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A mente rebelde que não aceita aposentadoria do saber

O “hypado” Lifelong learning sustenta as lideranças mais consistentes desde os primórdios do mundo
A mente rebelde que não aceita aposentadoria do saber
Foto: Freepik

Outro dia, me vi sentado em um auditório na Universidade de Stanford, cercado por 25 pesquisadores. Doutorandos, pós-doutorandos, gente mergulhada até o pescoço em pesquisas acadêmicas, algoritmos, discussões técnicas. O que mais me chamou a atenção ali, no entanto, não foram os números, nem os gráficos que mostravam como a inteligência artificial pode revolucionar a exploração mineral. Foi quem estava aprendendo.

Naquela sala, ao lado de jovens cientistas, estavam alguns dos nomes mais experientes da mineração mundial, profissionais com idades entre 65 e 75 anos. Mark Cutifani, ex-CEO da Anglo American, Rob McEwen, fundador de grandes mineradoras e Doris Hiam, conselheira de gigantes do setor, com uma trajetória de décadas. Gente que já viu o setor mudar várias e várias vezes e que, mesmo depois de ter liderado empresas inteiras, decidiu dedicar dois dias de suas agendas para entender o que vem pela frente.

Isso me fez pensar que talvez eles tenham chegado aonde chegaram justamente por nunca terem parado de aprender. Falamos muito sobre inovação com tecnologias disruptivas, mas raramente lembramos que o motor dessas grandes mudanças é, primariamente, o desejo genuíno de continuar aprendendo. O “hypado” Lifelong learning. Uma ideia que parece nova, mas que, na prática, é o que sustenta as lideranças mais consistentes desde que o mundo é mundo.

É curioso como, em muitos setores da indústria, ainda existe uma visão de que experiência e aprendizado são quase antagônicos. Como se, depois de um certo tempo, a gente já tivesse visto tudo, vivido tudo, aprendido tudo. Não tem. Não existe esse momento em que você se torna “pronto”. E, se existir, é aí que mora o risco. Porque o profissional que acha que já sabe tudo, começa a errar do pior jeito: repetindo acertos do passado em realidades que já mudaram.

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A mineração do futuro, aliás, do presente, é cada vez mais integrada à ciência de dados, à automação, à IA, à robótica. É claro, porém, que isso não elimina a necessidade do conhecimento prático de quem já viu muita coisa, pelo contrário.  O diferencial estratégico está em quem consegue juntar as duas pontas: a vivência do campo com o que está sendo desenvolvido no laboratório.

Quando vejo um CEO aposentado assistindo à aula como calouro, não penso que ele está “se atualizando”. Penso que ele nunca parou. Que esse é o jeito dele de existir no mundo: em construção.
A gente está acostumado a ouvir que o conhecimento é uma escada, mas talvez ele seja mais um trilho. Não basta subir, é preciso seguir. E seguir significa se permitir aprender, desaprender, recomeçar, mesmo quando seu crachá já não tem mais cargo, só sobrenome de peso.

Lá em casa, desde menino, escutava uma frase que carrego até hoje: “Cresce mais quem pergunta sem medo, e ensina melhor quem sabe escutar”. Foi assim que aprendi que saber não vem só do livro, vem da escuta, da curiosidade e da humildade de nunca achar que já sabe tudo.

Lifelong learning não é um termo da moda, pelo menos não por aqui, ou para ser usado como adorno em relatórios. É uma escolha de mentalidade. É entender que ninguém lidera o que não está disposto a conhecer. E que, se você quiser seguir relevante, em impacto, em valor, em reputação, vai precisar aprender a aprender. Sempre.

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