Na mira de Trump, Brasil vira risco e não parceiro

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a elevação para 50% da tarifa sobre produtos importados do Brasil. A medida, segundo ele, responde não apenas às acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas também ao que classificou como uma relação comercial desigual entre os dois países. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump justificou o aumento, que quintuplica a alíquota imposta em abril, como forma de corrigir distorções nas trocas bilaterais.
Mas a questão central não é Bolsonaro. Pouco importa se Trump alega perseguição política ou censura. Tarifas não se impõem por compaixão, e sim por cálculo estratégico. Apesar da amizade pessoal entre os dois líderes, na diplomacia não há afetos, mas interesses. E os Estados Unidos, especialmente sob a ótica de Trump, não toleram obstáculos. Com a China já ultrapassada no retrovisor, é o Brasil que, agora, aparece como pedra no caminho.
Decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo liberdade de expressão servem, na prática, como pretextos para endurecer a postura contra o Brasil. Assim como o tratamento dado a Bolsonaro, funcionam como argumento conveniente, não como causa real. Soma-se a isso o histórico contraditório da política externa americana, uma vez que o país que se apresenta como defensor da democracia já apoiou, sem pudor, regimes autoritários sempre que isso lhe convinha. Acreditar que a reação americana se baseia exclusivamente em princípios democráticos é, no mínimo, ingênuo.
A crise tem raízes internas. Decisões e posturas do Palácio do Planalto e do Itamaraty vêm desgastando a imagem do Brasil no cenário global. O governo insiste em “desdolarizar” o comércio internacional, tenta emplacar uma moeda dos Brics e flerta abertamente com adversários estratégicos dos Estados Unidos, como se a América não fosse reagir.
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Para Washington, o Brasil se tornou um risco geopolítico. Enquanto a China vê o país como seu novo celeiro e o governo brasileiro comemora, o que por aqui parece simples comércio, para os EUA representa ameaça. Eles analisam o tabuleiro e agem enquanto ainda têm poder de influenciar decisões. Se malconduzido, o Brasil vira ativo da concorrência. Por isso, vieram as tarifas.
Se estivesse alinhado aos Estados Unidos, Trump talvez vestisse um boné do STF e celebrasse a democracia brasileira. Interesses sempre prevalecem sobre ideologias. Isso não é um mito, mas um fato. O Brasil deixou de ser parceiro confiável e passou a ser visto como um “parceiro tóxico”, que gera ruídos, afasta aliados e compromete acordos. Um governo sem foco, que age por impulso, enfraquece sua credibilidade e compromete seu lugar no mundo.
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