A nova economia do audiovisual na era da IA
Quando comecei a dirigir programas de TV, a produção ainda tinha alma artesanal: grandes equipes, câmeras pesadas, estúdios que pareciam centrais da Nasa. Equipamentos e pessoal formavam uma verdadeira orquestra sincronizada. Mas boa parte dessa estrutura ficou no passado. A era digital impôs novos processos, de custos reduzidos e velocidade acelerada, e ainda democratizou as ferramentas de produção — hoje qualquer pessoa carrega celular uma mini suíte de gravação e edição. O resultado é o que chamo de “nova economia do audiovisual”, baseada em inovação, agilidade, baixo custo e plataformas convergentes.
Nesse mercado em constante evolução, os anseios da audiência também mudaram. Produtores e anunciantes enfrentam o desafio de conquistar um público impaciente, que busca respostas rápidas, conteúdos leves e visuais criativos. A American Psychological Association (APA), em podcast com a pesquisadora Gloria Clark, da Universidade da Califórnia em Irvine, destaca a redução da capacidade de atenção humana nos últimos anos. Especialistas do digital confirmam: os três primeiros segundos de um vídeo são decisivos para o espectador escolher se continua assistindo ou rola a tela.
Em paralelo, surge uma nova geração de criadores — jovens que nasceram conectados, dominam intuitivamente as ferramentas digitais e produzem conteúdo que reflete este tempo: ágil, criativo e visual. E a chegada da inteligência artificial acelerou ainda mais essa revolução. Plataformas como ChatGPT, Veo3 e Runway multiplicam possibilidades e colocam nas mãos de produtores independentes recursos antes restritos a grandes estúdios. Oportunidades inéditas, novas carreiras e novos milionários surgem da noite para o dia.
Aqui nos Estados Unidos, a combinação entre IA e audiovisual vai além do investimento: é um modelo de mentalidade e integração de negócios. Segundo o relatório Stanford HAI 2025 AI Index, o investimento privado da América em IA ultrapassou U$ 109 bilhões em 2024, cerca de 12 vezes mais que a China, com U$ 9.3 bilhões. A inovação contínua faz parte do DNA americano, coloca o país na vanguarda e impulsiona um ambiente em que seus produtores independentes têm acesso antecipado a tecnologias que os mantêm à frente. Por isso, é essencial acompanhar novas tendências e incorporar novas ferramentas à lógica de negócios — algo indispensável para produtores de todos os tamanhos.
Tal avanço, porém, levanta dilemas éticos, legais e culturais. O uso da IA gera debates sobre propriedade intelectual, direitos autorais, manipulação de imagem e som, e sobre a redefinição de padrões estéticos. Talvez o grande desafio seja unir tecnologia e propósito, garantindo que a IA amplie, mas não substitua, o olhar humano.
Nunca houve tantas ferramentas, nem tanta concorrência. Despontar no mercado, porém, exige visão empreendedora e posicionamento estratégico. A IA é aliada do criador e amplia possibilidades, mas o vencedor é o estrategista — quem domina a ferramenta, entende o público, antecipa tendências e entrega conteúdo com valor e propósito. Na nova economia do audiovisual, essa combinação é o verdadeiro diferencial competitivo.
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