Novas tendências e dicas para a eleição de 2024
No artigo de hoje vou seguir a linha que iniciei no penúltimo texto publicado. O intento é apontar algumas tendências para a próxima eleição. Para facilitar a leitura listo tópicos, em vez da escrita corrida. Aproveito para dar algumas dicas atreladas às tendências identificadas.
Diminuição da força do voto raivoso contra o sistema político. O desejo de mudança ainda permanece, especialmente nas classes mais baixas, mas o voto situacionista está muito forte. A mudança irresponsável, para “ver o circo pegar fogo”, contra todos os políticos, cede lugar a uma busca por segurança.
O eleitor parece estar preferindo “um arroz com feijão bem temperadinho” de um administrador conhecido a acreditar em uma nova receita, mesmo que aparentemente mais sofisticada. Prefeitos em mandatos bem avaliados ou até mesmo razoavelmente avaliados, têm boa chance de se reelegerem.
Uma dica – É essencial fazer agora o trabalho de comunicação de prestação de contas do mandato para agregar valor à imagem do gestor para consolidar as percepções já favoráveis e transformar a avaliação neutra (regular) em positiva.
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O eleitor quer equilíbrio, não será facilmente enganado por promessas mirabolantes e grandiloquentes, até porque estamos no contexto municipal.
Deve diminuir o peso da ideologia na eleição. Por ser uma eleição municipal, os temas locais têm mais peso. O eleitor quer soluções para o lixo, o esgoto, a unidade de saúde, o trânsito, a guarda municipal, etc. Proximidade e localismos são mais importantes do que grandes temas ideológicos.
A polarização que foi muito forte nas eleições nacionais de 2018 e 2022 não terá a mesma força no próximo pleito. O eleitor está cansado de briga política, quer solução para seus problemas do dia a dia.
Até mesmo nos grandes centros urbanos será difícil emplacar uma nacionalização da eleição.
Contudo, pautas comportamentais ainda poderão influenciar o pleito. Podem não eleger, mas têm enorme potencial para causar rejeição. Com o fim das coligações na eleição proporcional, existe uma tendência de aumento do número de candidatos, tanto para prefeito quanto para vereador.
Os partidos com as maiores bancadas federais, portanto, com mais recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral e, também, mais tempo de TV e rádio, tendem a atrair os candidatos mais competitivos. Estes partidos tendem a sair fortalecidos do pleito.
No entanto, partidos políticos continuam frágeis e seguem como atalhos cognitivos muito pouco utilizados para decisão do voto. O voto segue sendo predominantemente personalista.
Constata-se um aumento do interesse do eleitor pela política no Brasil, em grande parte explicado pelo aumento da escolaridade média do brasileiro, mas isso não necessariamente implica em um comportamento eleitoral mais crítico e consciente.
As últimas eleições já vêm demonstrando e, segue como tendência, a não aceitação por parte do eleitor de candidatos maquiados e artificiais, “em cima do muro”, que querem agradar a todos. Autenticidade é a palavra. O eleitor deseja verdade, consistência e coerência.
Uma dica: Tenha posição. Defenda seus pontos de vista. As pessoas querem seguir quem “tem lado”, que sustenta uma boa polêmica. Na internet ser polêmico é positivo, especialmente nas eleições proporcionais. Na majoritária, é preciso mais cuidado ao escolher as bases de segmentação do discurso que embasam as polêmicas.
Defenda as suas causas. Levante suas bandeiras. As pessoas querem motivos para seguir o líder. O líder tem que inspirar. A pré-campanha é a hora certa para estabelecer suas posições.
As redes sociais (desde 2010) ganham força nas campanhas eleitorais. Esse fato é reforçado pelo aumento da velocidade de tráfego de dados (em algumas cidades já tem 5G) e pelo número cada vez maior de pessoas com acesso à internet e a smartphones. A internet é o local para se construir relacionamentos e vínculos.
O formato vídeo é cada vez mais aceito. O smartphone é o meio mais importante da campanha, mais que a TV. O WhatsApp é a mídia principal da eleição, seja para propagar informação ou desinformação. Mesmo com a LGPD e com o aumento do controle pelas autoridades, ainda vai haver muita fake news circulando.
Dica: Na comunicação pense de maneira integrada e convergente (cross mídia). O novo eleitor é multicanal, conectado e ativo, precisa ser impactado em várias mídias para que a mensagem seja fixada.
Inteligência Artificial começa a entrar em ação nas campanhas eleitorais: ferramentas de criação publicitária, redação, edição de vídeos, criação de músicas, tratamento de imagens, além de bots de atendimento, relacionamento, distribuição de conteúdo, algoritmos de recomendação etc. Na próxima eleição ganha muito destaque a geração de conteúdo. O eleitor busca utilidade e relevância.
Dica: oferecer conteúdo gratuito, relevante e aderente aos interesses de cada target é fundamental como mecanismos de atração e conquista de seguidores e multiplicadores da mensagem do candidato.
Mais uma dica: Para se construir relacionamento e engajar pessoas na web é necessário gerar conteúdo, interagir e responder, ou seja, manter o diálogo. Nas redes, a propaganda explicita é sempre indesejável.
Primeiro conquiste uma rede de admiradores e seguidores. Eles serão os maiores propagadores da sua mensagem. Não vá direto ao mercado de massa de votos. As pessoas não prestam atenção em quem não conhecem ou de quem não têm alguma referência.
Do ponto de vista das tendências de campanha, as pesquisas seguem fundamentais. Conhecer a fundo os eleitores é determinante para a construção de um discurso relevante, que dialogue com segmentos sociais e inspire os liderados. O posicionamento continua sendo o núcleo da campanha.
Dica estratégica: É essencial posicionar a si mesmo e ao seu adversário principal. Posicionar é ajustar o histórico e a imagem percebida do candidato às percepções dos eleitores, apresentando seus diferenciais em relação à concorrência.
No contexto municipal, a presença do candidato e o relacionamento com a população ainda seguem como aspectos essenciais da campanha. Seja através do contato direto, seja através de lideranças horizontais, seja através de estruturas de trabalho social ou, no caso do mandatário atual, das visitas a obras, inaugurações e contato com a população e de beneficiados de programas do governo.
Dica final: A construção da agenda é uma função central em uma campanha ou em um mandato. Não negligencie a agenda, trate-a de forma estratégica. Sem uma boa agenda, não há uma boa comunicação.
Cada vez que realizamos pesquisas de opinião e vamos auscultando o eleitor, ouvindo suas angústias, as suas expectativas e as suas vontades, mais tendências poderão ser identificadas. Este é o segredo de uma boa estratégia eleitoral: estar sempre muito ligado e conectado com a mente e o coração dos votantes para sermos capazes de construir uma mensagem que dialogue com os seus sentimentos.
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