O gap entre gêneros: entenda o papel das empresas nesse desafio
Na última semana o Brasil foi surpreendido com várias notícias de ações violentas contra mulheres, vindas de diferentes partes do País: no dia 28 de novembro, Allane de Souza Pedrotti Matos e Layse Costa Pinheiro foram vítimas de feminicídio por um homem que não aceitava ser liderado por mulheres. No dia 30 de novembro, Taynara Souza Santos foi atropelada e arrastada por um quilômetro por seu ex-companheiro, por motivos de ciúme, e teve suas pernas amputadas. No dia 1º de dezembro, Evelin de Souza Saraiva foi vítima de uma tentativa de feminicídio: o autor, seu ex-companheiro, usou duas armas para disparar seis tiros contra ela no seu local de trabalho. Escrevendo assim parece um filme de produção hollywoodiana, mas, infelizmente, é a vida real e está acontecendo bem pertinho de nós.
Há mais ou menos um mês, assisti uma palestra do divulgador científico Atila Iamarino. Ele falava das três Eras da Web: da Presença, do Filtro e da Criação. A Era do Filtro é marcada pela disputa da atenção, organizada pelos algoritmos, e também pelo filtro das pessoas, que resolvem o que querem compartilhar e, muitas vezes, compartilham notícias falsas tendo o conhecimento disso, ao que Átila dá o nome de Controle do Território Emocional. Nessa era, é forte a presença de grupos de homens conservadores, de extrema direita, que compartilham ideologia por meio de jogos e podcasts para meninos adolescentes.
Por outro lado, cresce também o número de meninas progressistas, liberais, influenciadas pelas ideias do feminismo em rede, mas sem o devido aprofundamento teórico e conceitual. O resultado disso é que estamos presenciando um crescente abismo entre os gêneros, principalmente, entre os adolescentes que são mais sensíveis a esse tipo de abordagem e não estão ainda com a sua personalidade formada. Essa distância é muito bem apresentada na série Adolescência, da Netflix.
No âmbito da política, a estudiosa Alice Evans nomeia esse fenômeno de Gender Gap. No espaço das redes sociais digitais, Sarah Bannet Weiser vai dar o nome de Feminismo Popular e Misoginia Popular. Em diferentes campos de conhecimento, pesquisadoras se debruçam para estudar esse fenômeno e os seus desdobramentos.
Como isso se aplica ao Contexto Empresarial?
É importante entender que a violência contra as mulheres não acontece de repente. O Brasil registrou 86 mil agressões contra as mulheres só em 2025 (são dezessete denúncias por hora). E os locais em que essas violências mais acontecem são: locais de trabalho (1.354 casos), residência (1.236 casos) e estabelecimentos comerciais (1.164 casos). Ou seja, esse é um problema social que compete a todos nós e que tem a convivência no ambiente de trabalho como um dos seus principais agravantes.
No caso da Geração Z, que tende a ser o futuro dos colaboradores dentro das organizações, esse abismo é premente. Mulheres dessa geração lideram a adesão a ideias progressistas e os homens jovens são o grupo mais conservador e reacionário. Sendo assim, é preciso que se crie ações aproximativas entre homens e mulheres dessa geração, e também que se oportunize programas intergeracionais dentro das empresas, de modo à promoção de estratégias para que haja uma aproximação entre mulheres e homens, e que esses se tornem aliados na luta pela igualdade de gênero.
Abaixo, algumas dicas de como começar:
- Esqueça a igualdade: homens e mulheres têm realidades de vida diferentes e aceitar isso é o primeiro passo para a implantação de uma cultura de respeito e um ambiente seguro;
- Cuide dos horários e espaços em que as decisões empresariais são tomadas. As mulheres nem sempre podem participar de reuniões ou dos happy hours após as 18h. Sendo assim, esses não são os momentos para se decidirem promoções ou outros benefícios;
- Promova mentoria entre gêneros. É uma ótima oportunidade para que mulheres e homens entendam as dores e as questões uns dos outros;
- Crie ações a favor da equidade de gênero dentro da empresa;
- Escute e converse com as mulheres do seu trabalho;
- Valorize as conquistas das mulheres incríveis que trabalham com você;
- Leia mulheres;
- Apoie as novas colaboradores da sua equipe;
- Apoie mulheres que voltam de licença-maternidade;
- Converse com homens e mulheres que falam e reproduzem atitudes machistas.
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