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Obrigado, Guy de Almeida

No último dia 2 de maio, o jornalista se despediu deste plano, deixando um grande legado
Obrigado, Guy de Almeida
Crédito: Reprodução ALMG

No dia dois de maio, partiu Guy de Almeida para sua morada final. Viveu 93 anos. Se não tivesse se exilado no Chile, em 1966, provavelmente teria tido o mesmo destino de Rubens Paiva, Antônio Joaquim e tantos outros brasileiros assassinados pela violência da ditadura militar, cujos corpos nunca foram entregues às suas famílias. A denúncia ao jornalista era de que ele estaria participando de um complô para dinamitar Ipatinga. Imagine tamanha mentira! Seu exílio poupou-lhe a vida e permitiu-lhe desfrutar muitos mais da convivência com sua esposa Clelia, filha, filhos e demais familiares, continuar fazendo amigos, contribuindo para a qualidade do jornalismo ético, comprometido com a informação correta, e para a consolidação de uma sociedade livre, democrática e justa.

Eu ainda morava em Juiz de Fora, quando tive as primeiras notícias do Guy. Após minha eleição para a presidência da União Estadual dos Estudantes (UEE-MG), concedi entrevista ao Fernando Gabeira, então repórter do jornal O Binômio, que me chamou a atenção para esse editor e formador de jornalistas. Em BH, tornei-me amigo de dois jovens jornalistas que trabalhavam sob sua direção na sucursal do Jornal do Brasil, Lélio Fabiano e Emerson de Almeida. Foram eles que me apresentaram ao Guy, pessoa cativante. Fácil foi nossa conexão.

Tenho dois episódios com Guy que me marcaram profundamente. Um, no final de março de 1964. Em um início de tarde, me ligou Guy convidando-me a ir com ele até ao Palácio da Liberdade para acompanharmos José Aparecido em sua saída do governo, pois acabara de se demitir da Secretaria, em razão da decisão do governador Magalhães Pinto de apoiar o golpe militar, que se organizava em Minas Gerais. Guy me buscou na sede da UEE-MG, na rua Guajajaras, 694, dirigindo seu Dauphine azul-claro. Imagine o grandalhão Guy dirigindo um carro tão pequeno. Fomos ao Palácio e acompanhamos José Aparecido. Por generosidade do Guy, fiquei sabendo que, em questão de dias, aconteceria o golpe de destituição do Jango.

Outro, no início de 1968, eu já casado com Clotilde, recebi uma carta do Guy, agora vivendo no Peru, me dizendo que, sabendo de minha decisão de sair do Brasil, se oferecia para nos acolher em Lima, onde morava em um apartamento, com toda sua família. Não sei quem lhe falou sobre minha intenção de me exilar, o que nunca ocorreu. Vale o registro da generosidade e da consideração dele com os amigos. Fica minha gratidão.

No dia três de maio, para nos despedirmos do amigo, no cemitério da Colina, Luiz Carlos Costa me contou sobre o retorno do Guy, em 1977. Mauro Santayana ligou para seu pai, consultando-o se poderia recebê-lo no Diário do Comércio. O saudoso José Costa respondeu, de imediato, diga-lhe que venha correndo.

Pois bem, imagino que Guy já tenha se encontrado com Arthur, seu filho, e com seus amigos jornalistas, José Aparecido, José Costa, José Maria Rabelo, Dídimo Paiva, e tantos outros, para refrescar suas memórias e atualizá-los sobre como estão difíceis as coisas cá na terra. Ah, será que já marcou uma boa resenha com Dom Serafim, Nelson Campos, Elias Kalil, Cafunga, Zé do Monte, Paulo Cury e tantos atleticanos que lá estão? Guy de Almeida deixa-nos um legado profissional extraordinário e lições de vida íntegra e solidária. Ficam o orgulho de sua família e os agradecimentos de seus amigos. Obrigado, Guy.

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