Com fala lúcida e oportuna na ONU, Lula critica acordos climáticos não cumpridos

“O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”
Em sua momentosa fala na ONU, já aqui comentada em alguns aspectos significativos, o presidente Lula sustentou, de maneira enfática, que os Estados não podem se curvar “ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei.” Proclamando a urgência da regulamentação das redes sociais, salientou que “a liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras.” Acrescentou que a essência da soberania abrange o direito de legislar, julgar e fazer cumprir as regras dentro dos territórios nacionais, incluindo obviamente o ambiente digital.
Criticou veementemente o que chamou de “oligopólio do saber”, configurado na consolidação das assimetrias na área de inteligência artificial (IA). Justificou acertadamente a implementação de governança intergovernamental da inteligência artificial, explicando que o mundo observa, assustado, que os poderes inerentes a IA estão se concentrando nas mãos de pequeno número de pessoas e empresas, em alguns poucos países. Aduziu, sensatamente: “Interessa-nos uma inteligência artificial emancipadora, que também tenha a cara do Sul Global e que fortaleça a diversidade cultural. Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. E, sobretudo, que seja ferramenta para a paz, não para a guerra.”
Noutra vertente da manifestação, Lula declarou estarmos condenados à interdependência da mudança climática. Registrou que o planeta já não espera para cobrar da próxima geração. Disse: “O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chegam nunca.”
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O presidente ressaltou que a democracia não aceita a fome, a desigualdade, o desemprego e a violência. Anotou, a propósito: “No Brasil, a defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas e totalitárias, que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento”.
Em trecho do discurso voltado para a questão das clamorosas desigualdades sociais e as dificuldades enfrentadas na conquista de patamares de crescimento econômico satisfatórios, Lula criticou a exorbitância dos juros cobrados, por órgãos financiadores internacionais das nações em desenvolvimento. Assegurou: “Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção do FMI e do Banco Mundial não haverá mudança efetiva.”
Chamou a atenção para um contraste assustador na esfera econômica. Enquanto 155 milhões de pessoas ao redor do mundo passam fome, as 150 maiores corporações obtiveram lucro de 1,8 trilhão de dólares e a fortuna dos 5 principais trilionários mais que dobrou. Arrematou: “A fome não é resultado apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la.” Uma fala, sem dúvida, lúcida e oportuna.
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