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Ordem mundial é abalada por conflitos e guerras

A loucura impede que a linguagem da metralha seja substituída pela voz diplomática
Ordem mundial é abalada por conflitos e guerras
Crédito: Amir Cohen/Reuters

“Não vejo uma fresta, no quadro atual, por onde possa penetrar a diplomacia”. (Celso Amorim).

Uma nova era. Um patamar de esplendor tecnológico e de resgate social, como conquistas do espírito. Uma época, sonhada pelos corações fervorosos, em que se fizesse possível o desfrute pelos povoadores deste maltratado planeta azul, dos prodígios advindos do poder criativo humano. Assim se antevia, no passado, os já chegados tempos do Século 21.

Que terrível frustração! Não se falando da quantidade assombrosa de outras mazelas que tanta angústia ocasiona, a segunda década deste século vem se “notabilizando” pelo mais avolumado registro de conflitos bélicos desde a segunda grande guerra. As contendas violentas simultâneas, espalhadas por todas latitudes, confirmam a impressão cheia de amargura, do Papa Francisco, quando asseverava que a 3ª Guerra já estaria em curso, de forma fatiada, acionada por ódio irracional, ambições descomedidas e paixões incendiárias.

Essa “guerra fatiada”, que tanto impacta a ordem mundial sob todos os aspectos, ameaçando desfazer laços de convivência entre países, etnias, religiões, torna exultantes os “Senhores da Guerra” e seus leais comparsas, os armamentistas, vidrados nos gráficos de lucros. A eles nada importam a selvageria da luta armada, os dramas inenarráveis das famílias destroçadas, a destruição de lares, das estruturas comunitárias, de cidades inteiras, a agonia de reféns, prisioneiros, e pessoas encurraladas sob o silvo dos obuses. Nem tampouco se sensibilizam com o clamor levantado, perante a opinião pública, pelos desatinos desencadeados, “justificados” com sofismas delirantes, argumentos inconvincentes que nada mais representam senão mera camuflagem retórica para sórdidos propósitos, inaceitáveis à luz da razão e dos conceitos humanísticos e espirituais.

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A beligerância solta tem dado causa a atitudes, pronunciamentos, comunicados desconexos, que além de trazerem espanto e temores, impulsionam outro tipo de guerra, de consequências imprevisíveis, qual seja, “a guerra de versões”, diabólica ao seu feitio, que suscita, no espírito popular, a incômoda sensação de estarmos, todos nós, a esta altura dos acontecimentos, caminhando às cegas num labirinto onde o pior ainda está por vir. Evidenciando que a vida pode, às vezes, imitar a ficção, muitos andam identificando em coisas que vêm rolando, no espaço bélico, sinais das sombrias perspectivas projetadas por George Orwell em seus reveladores escritos.

A loucura, com método, como dizia Shakespeare impede que a linguagem da metralha seja substituída pela voz diplomática, pelo diálogo racional capaz de abrir frestas de entendimento, descoberta de caminhos que conduzam à paz e que assegurem às mulheres e homens de boa vontade a reconfortante certeza de que o Século 21 poderá ainda alcançar redenção.

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