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O incrível binômio Performance e Cooperação, e como chegar a esse equilíbrio nas empresas

Cooperação e performance não devem ser vistas como forças opostas, mas como complementares. Leia no artigo do medalhista olímpico Teo Laborne
O incrível binômio Performance e Cooperação, e como chegar a esse equilíbrio nas empresas
Teo Laborne foi atleta na natação e medalhista olímpico pelo Brasil. Foto: Rafael Motta / Divulgação

Nas últimas décadas, muitas empresas têm se dividido em um espectro que partilha dos seguintes extremos: de um lado, a cultura da alta performance, onde a busca desenfreada por resultados leva a problemas sérios de saúde mental e alta rotatividade de funcionários. A lei da selva é a norma. De outro, ambientes extremamente cooperativos que, embora harmônicos, acabam gerando um clima de conformidade, com baixa produtividade e acomodação dos colaboradores. Somos todos uma família e por isso não nos exigimos ao máximo. Para superar esses desafios, é essencial entender o que está por trás dos sentimentos que geram esses comportamentos.

Em muitos ambientes de trabalho, o foco exclusivo em resultados individuais gera um cenário competitivo e muito desgastante. Empresas com alta performance sem cooperação enfrentam desafios cotidianos como a alta rotatividade de funcionários, o estresse elevado e uma progressiva deterioração da saúde mental. Um exemplo clássico são as empresas com departamentos comerciais extremamente agressivos, onde os indivíduos são incentivados a alcançar metas estratosféricas, sem considerar o impacto no coletivo ou no ambiente de trabalho.

Geert Hofstede, em seu estudo sobre dimensões culturais, explora muito bem a distinção entre individualismo e coletivismo. Em culturas individualistas, como a de muitas corporações ocidentais, o sucesso individual é exaltado acima do coletivo. Cotidianamente. Isso cria ambientes de trabalho onde a competição é extrema e a cooperação é vista como algo secundário ou até prejudicial para se chegar ao topo. Embora os resultados possam ser impressionantes a curto ou médio prazo, o desgaste da equipe e a falta de suporte mútuo geram um ambiente tóxico que, a longo prazo, impacta negativamente os colaboradores.

Harry Triandis traz outra importante perspectiva ao discutir as culturas idiocêntricas (focadas no indivíduo) e alocêntricas (focadas no coletivo). Triandis argumenta que a falta de suporte e conexão entre os colaboradores mina o espírito de equipe, resultando em burnout, competição destrutiva e a fragmentação das equipes.

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Uma consequência direta dessa alta performance sem cooperação é a deterioração da saúde mental. O estresse constante, a falta de apoio emocional e a pressão por resultados colocam os indivíduos em uma situação de constante competição, o que acaba levando ao esgotamento. Este é um problema da ordem de US$ 187 bilhões somente nos EUA (dados da Forbes), se juntarmos os impactos do absenteísmo e do presenteísmo (presença com baixa produtividade) por decorrência de um ambiente tóxico.

O outro lado: a armadilha da conformidade

Embora seja mais fácil identificar os problemas em ambientes excessivamente focados em alta performance, há outro cenário menos óbvio, mas que também vejo em algumas empresas onde passo. Empresas com excelente grau de cooperação, mas que carecem de alta performance. Nessas organizações, os colaboradores são unidos, o ambiente é harmonioso e há uma grande preocupação em manter boas relações. No entanto, essa preocupação excessiva em evitar conflitos e manter a harmonia muitas vezes leva à acomodação e à baixa produtividade.

Em seu trabalho sobre culturas coletivistas, Triandis e Singelis destacam que o desejo de evitar conflitos pode se tornar um obstáculo, pois impede uma cobrança interna de caráter construtivo. Em ambientes altamente cooperativos, os colaboradores muitas vezes hesitam em criticar ou sugerir mudanças, com medo de desestabilizar a dinâmica do grupo. Como resultado, a conformidade se instala e, ao invés de alcançar alta performance, a empresa acaba sendo complacente, com uma média baixa de produção.

O equilíbrio: a cooperação de alta performance

A verdadeira cooperação não significa conformidade. Acredito firmemente nisso. Pelo contrário, quando bem implementada, a cooperação eleva a produtividade e traz o melhor de cada colaborador, sem gerar desgaste emocional ou acomodação. Isso ocorre porque a expectativa mútua é alta e todos têm um forte senso de responsabilidade tanto pelos seus próprios resultados quanto pelos resultados dos colegas. Existe cobrança, mas alinhada às expectativas e propósitos estabelecidos para o grupo, que são coletivamente partilhados.

Um dos fatores mais importantes para equilibrar performance e cooperação é a expectativa mútua alinhado à criação de um forte senso de pertencimento. Quando todos dentro de uma equipe têm a expectativa de que seus colegas darão o melhor de si, cria-se uma dinâmica positiva de cooperação, que se retroalimenta. O apoio mútuo se alia à cobrança mútua construtiva. Ela não é apenas emocional, mas funcional. Cada colaborador sabe que seu desempenho impacta diretamente os outros, o que os incentiva a entregar resultados de alta qualidade.

Cooperação e performance não devem ser vistas como forças opostas, mas como complementares. Quando alinhados, eles se tornam uma poderosa combinação para alcançar resultados duradouros. A verdadeira cooperação não é sinônimo de conformidade. Porque no fim das contas, se todos se puxam para cima, 1+1 sempre vai ser maior que dois.

Essa vida é boa demais!

Normalmente um atleta é associado mais à alta performance individual do que à cooperação. Principalmente em esportes individuais. Mas a minha história mostra o contrário. Mostra que a cooperação usualmente é o que nos faz ir mais longe. Por isso que eu levo a cooperação para as empresas.

Mas nesse meu caminho muitas vezes vi alguns grupos de pessoas confundirem o real propósito da cooperação. Tem gente que acha que a cooperação, por trazer uma maior harmonia ao grupo, pode fazer com que a gente minimize os conflitos e, por consequência, o crescimento. Eu advogo exatamente o contrário.

A cooperação é o melhor veículo para abraçar o conflito de forma respeitosa e impulsionar o crescimento coletivo, que leva consigo a produtividade, a alta performance. Vem comigo nesse raciocínio pra demonstrar que o melhor competidor continua sendo apenas 1. E os cooperadores sempre rompem as leis da matemática.

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