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Por que a fala do presidente Lula sobre Israel foi infeliz em demasia

Por que a fala do presidente Lula sobre Israel foi infeliz em demasia
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

“O presidente Lula saiu do ponto.” (Senador Jacques Wagner, líder governamental no Senado)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou o que não devia e escutou o que não precisava ouvir.

Extrapolou, como se diz no jargão diplomático, a linha vermelha. A comparação da virulenta contraofensiva israelense em Gaza com a horrenda história do Holocausto foi infeliz em demasia. As atrocidades nazistas alvejando prioritariamente a comunidade judia e envolvendo outros grupos não encontram paralelo na história dos crimes cometidos contra pessoas e patrimônios em nenhum outro momento da idade moderna, que é pontilhada, como sabido, por atentados frequentes à dignidade humana.

Ato incontinente à retórica desastrada, a reação oficial do governo de Netanyahu foi bastante veemente, enveredando, todavia, por tom descomedido dentro dos padrões diplomáticos que regem as relações entre países que preservam histórica convivência fraternal. O ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, depois de considerar Lula “persona non grata”, exigindo que se retratasse, mandou chamar o Embaixador brasileiro em Telavive para reunião no “Museu do Holocausto”, com o fito de aplicar-lhe uma repreensão pública sob os holofotes midiáticos. O “pito” foi dado em hebraico, com voz alterada e sem tradutor por perto, algo pra lá de surreal. Ao Itamaraty não restou alternativa que não a de trazer de volta o Embaixador brasileiro Frederico Meyer, e convocar o Embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, para encontro reservado, sem presença de jornalistas, com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a fim de registrar o desconforto causado com o tratamento dispensado ao nosso País na momentosa questão.

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Não satisfeito com as atitudes já tomadas, o Chanceler Yoav resolveu escalar uma oitiva a mais no protesto, abrindo nova frente de críticas ao presidente do Brasil pelas redes sociais, o que está sendo considerado por observadores qualificados em política internacional comportamento inteiramente fora do compasso diplomático e que só se apresta a acirrar ânimos e ampliar discórdias.

A impressão, aventada por jornalistas, de que o governo Netanyahu esteja empenhado em utilizar a imprópria fala de Lula, proferida na Etiópia, como instrumento de propaganda política, na tentativa de melhorar sua desgastada imagem nos planos interno e externo, parece de algum modo corroborada por episódios bastante emblemáticos. O presidente da Turquia, Erdogan Turkey, fez pronunciamentos em dezembro e janeiro extremamente hostis à conduta das Forças Armadas de Israel em Gaza, falando em “Holocausto” e “genocídio” e comparando o primeiro-ministro de Israel como “Führer”, e “Hitler”. Telavive protestou, mas não desfechou contra o governante de Ancara e seu país a artilharia pesada verbal agora observada. De outra parte, a expressão “genocídio”, alusiva à tragédia de Gaza, foi também empregada pelo governo da África do Sul ao propor a condenação de Israel e seus dirigentes por “crimes de guerra” na Corte Internacional de Justiça de Haia. Pela mesma forma, a reação de Israel ficou adstrita aos protocolos tradicionais da política diplomática.

A opinião pública brasileira acompanha com notório desagrado o desdobramento do caso em tela.

Ancorada nas boas relações que o Brasil mantém com o Israel desde sua criação, em 1948, quando a presidência da ONU era ocupada por Oswaldo Aranha, aguarda confiante que as escaramuças antidiplomáticas cessem o quanto antes. Sejam substituídas pelo tom respeitoso e fraternal que a competente diplomacia brasileira consegue imprimir, como reconhecido universalmente, a todas as ações em que se vê envolvida.

Enquanto isso em Gaza…

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