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A advocacia do futuro não espera: por que os profissionais precisam estar nos palcos da inovação

Estabilidade da advocacia vem sendo desafiada pela transformação tecnológica e a inovação no Direito
A advocacia do futuro não espera: por que os profissionais precisam estar nos palcos da inovação
Foto: Reprodução Freepik

A advocacia sempre foi reconhecida como uma das profissões mais tradicionais, pautada por ritos, precedentes e estabilidade. No entanto, essa estabilidade vem sendo desafiada por uma onda que cresce de forma irreversível: a transformação tecnológica e a inovação no Direito.

O mês de setembro traz um recorte importante dessa realidade. Eventos como o Digital Privacy Summit (São Paulo, 08/09), as lives do Legal AI Start (online, 09/09 e 16/09), e o Innovation Day da OAB Osasco (Teatro Municipal de Osasco/SP, 23/09), revelam que os debates jurídicos de maior impacto hoje não se concentram apenas em tribunais e salas de aula, mas em palcos onde tecnologia, mercado e regulação se encontram.

Ignorar essa movimentação não é apenas uma escolha, é um risco real de perda de relevância profissional. Os números mostram que a advocacia está diante de uma mudança estrutural: não se trata de “se” haverá impacto, mas de “quando” e “como” cada profissional escolherá se posicionar nesse novo cenário.

Segundo a AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs & Legaltechs), já existem mais de 600 startups jurídicas em operação no Brasil, desenvolvendo soluções que vão desde gestão de contratos até análises preditivas e automação de tarefas repetitivas. O crescimento das LegalTechs no Brasil e no mundo já não é novidade, mas o ritmo com que elas avançam merece atenção.

Relatório da Thomson Reuters (2024) aponta que mais de 70% dos escritórios de advocacia no mundo já incorporam ferramentas de automação e inteligência artificial em seus fluxos de trabalho.

Já a consultoria McKinsey estima que, até 2030, 23% das atividades atualmente desempenhadas por advogados poderão ser automatizadas, especialmente tarefas de análise documental, due diligence e pesquisa jurisprudencial.

Os eventos de setembro ilustram com clareza os três pilares centrais da transformação jurídica. Primeiro, Inteligência Artificial (IA): ferramentas baseadas em IA já permitem pesquisas jurisprudenciais em segundos, elaboração de minutas e até análises estratégicas de probabilidade de êxito em ações judiciais. O desafio não é se adaptar à IA, mas compreender seus limites éticos, jurídicos e regulatórios.

Segundo, proteção de dados e privacidade: a LGPD, em vigor desde 2020, e regulações internacionais como o GDPR europeu impõem responsabilidades diretas sobre escritórios e departamentos jurídicos. Profissionais que dominam o tema saem na frente, pois privacidade e compliance digital são áreas em franca expansão e com forte demanda de mercado.

Terceiro, inovação regulatória e novos modelos de negócio: a ascensão das LegalTechs pressiona reguladores e conselhos de classe a repensarem fronteiras da prática jurídica. Modelos de “advocacia híbrida”, colaboração com startups e estruturas de venture builder começam a ganhar espaço. Essa tendência aponta para uma advocacia mais empresarial e orientada à tecnologia.

Estar em eventos como os de setembro vai além de “networking”. Eles funcionam como laboratórios vivos de atualização profissional. A ausência nesses debates significa não apenas perder informações, mas perder relevância. A advocacia que se isola, que não busca compreender e participar ativamente dessas transformações, corre o risco de se tornar obsoleta em poucos anos.

Setembro é apenas um recorte, mas um recorte simbólico. A mensagem é clara: advogados que não acompanham essa transformação ficam para trás. Não se trata de moda ou tendência passageira, mas de uma mudança estrutural do mercado jurídico. O futuro da advocacia não espera. Quem deseja permanecer relevante precisa estar onde as discussões acontecem, nos palcos da inovação.

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