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Quando o governo gasta, o Copom segura

É correto e desejável que o Copom mantenha a política monetária em patamar significativamente contracionista
Quando o governo gasta, o Copom segura
Foto: Reuters/Ueslei Marcelino

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta quarta-feira, 17 de setembro, e deve manter a Selic em 15% ao ano. A decisão, amplamente esperada, reflete um diagnóstico de que, embora a inflação venha mostrando sinais de arrefecimento, ainda está longe de convergir com segurança para a meta institucional.

O comunicado que acompanhará a decisão será mais relevante que a própria taxa, pois o mercado observará com atenção se permanece a formulação “período bastante prolongado” para descrever a manutenção dos juros no patamar atual. Uma alteração nesse tom seria lida como prenúncio de cortes antecipados, algo que, além de danoso para economia, por ora, segue fora do radar do Banco Central do Brasil (BC).

O ambiente macroeconômico combina sinais mistos. A atividade doméstica dá mostras de desaceleração, tendo em vista o recuo da produção industrial e do varejo, a confiança empresarial e do consumidor enfraquece, e as projeções do PIB foram revistas para 2,16% em 2025 e 1,80% em 2026. Apesar disso, o mercado de trabalho continua aquecido, com desemprego em 5,6% e salários reais em alta, fatores que tradicionalmente mantêm pressão sobre os preços de serviços. As expectativas de inflação recuaram levemente, mas continuam absolutamente desancoradas, fato que é atestado pelo IPCA projetado pelo Boletim Focus, que está em 4,83% para 2025 e 4,30% para 2026, ambos acima do teto da meta (4,5%).

Há, contudo, fatores que jogam a favor do BC. A provável redução de juros pelo Federal Reserve (Fed) tem fortalecido o real, que se aprecia e ajuda a conter os preços de bens transacionáveis. O risco, porém, como sempre nos governos petistas está no lado fiscal. O governo federal tem adiado decisões duras sobre contenção de gastos e segue apostando em receitas extraordinárias para fechar as contas, o que mina a credibilidade do arcabouço e dificulta a ancoragem das expectativas. Dizer isso é sempre chover no molhado, mas sem reformas estruturais que enfrentem a rigidez das despesas obrigatórias, o País continuará pagando juros reais elevados.

É correto e desejável que o Copom mantenha a política monetária em patamar significativamente contracionista, pois eventuais cortes só farão sentido quando houver sinais mais firmes de convergência da inflação e responsabilidade fiscal do governo.

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