Quem disse que mina e usina não dão bons pontos turísticos?

Vamos brincar de associação de palavras? Aquele jogo simples: eu digo uma palavra, você responde com o que vier primeiro à cabeça. Pronto? A palavra é: ponto turístico. Talvez você tenha pensado no Cristo Redentor, na Estátua da Liberdade ou na Torre Eiffel. Ícones clássicos, imagens que vêm prontas na memória coletiva. Bom, mas sabe qual foi a primeira coisa que me veio à minha cabeça? Antigas áreas industriais.
Parece improvável? Pode até soar como loucura para quem nunca viveu essa experiência de perto, mas para mim é pura consequência de vivências. É o efeito de ter caminhado por espaços que um dia foram sinônimo de produção, extração, desenvolvimento… e que hoje são palco de cultura, lazer, arte e turismo.
Foi o que senti no Six Flags Magic Mountain, na Califórnia. Enquanto esperava minha vez na montanha-russa, me veio à mente uma história curiosa: o Six Flags Fiesta Texas, em San Antonio, foi construído sobre uma antiga mina. Onde antes circulavam caminhões carregados de calcário, hoje correm famílias e turistas em busca de diversão. A estrutura permanece, mas o propósito… esse virou outro.
Londres também me ensinou algo nessa linha. Caminhar pela Battersea Power Station foi como atravessar décadas de história em poucos passos. De um lado, a lembrança de uma usina elétrica que abasteceu a cidade por anos. Do outro, a experiência de um polo vibrante de cultura, lazer e gastronomia.
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Na Cidade do Cabo, visitei o Zeitz MOCAA, o maior museu de arte contemporânea africana, instalado em um antigo silo de grãos. Em Katowice, na Polônia, explorei centros culturais construídos dentro de estruturas que, até pouco tempo, faziam parte de complexos de mineração. E em Nova York, caminhei pela High Line, um parque urbano suspenso, nascido sobre trilhos que já transportaram toneladas de carga.
O que todos esses destinos têm em comum? Uma capacidade admirável de contar novas histórias sem apagar as antigas. De ressignificar com respeito e reconhecimento os papéis que aqueles espaços tiveram em outros tempos. O turismo, agora protagonista, conecta pessoas ao território, cria experiências, ativa economias locais e faz com que a memória permaneça viva e ganhe novas camadas de significado.
Quando volto para o Brasil, olho para tantas áreas industriais adormecidas com outra cabeça. Vejo galpões, pátios, estruturas… e penso em quantas histórias poderiam ser contadas ali. Não só em museus formais, mas em parques, centros culturais, espaços que convidem gente a entrar, sentir, explorar. Mais do que uma tendência internacional, acredito que estamos diante de uma oportunidade de ampliar nosso mapa de destinos turísticos.
É, pensando bem, talvez aquela associação de palavras nem seja tão improvável assim. Depois de tudo que relatei, você há de concordar comigo que dizer “ponto turístico” e pensar em antigas áreas industriais… faz todo sentido.
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