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Uma questão de princípio: uma história de Dom Alexandre

Líder religioso atuou no enfrentamento de arbitrariedades e desmandos cometidos em tempos de autoritarismo no País
Uma questão de princípio: uma história de Dom Alexandre
Crédito: Reprodução Site Arquidiciose de Uberaba

“Se confiando em ti mesmo, aceitas sem revolta, que duvidem de ti os que não te entenderam (…) És um homem!” (RudyardKipling).

Trago aqui, conforme prometido a partir de hoje, histórias sobre a desassombrada conduta do inolvidável arcebispo Dom Alexandre Gonçalves Amaral no enfrentamento de arbitrariedades e desmandos cometidos em tempos de autoritarismo ocorridos no Brasil.

Idos do Estado Novo. O Brasil entrou na segunda Guerra Mundial pressionado pela opinião pública, indignada diante do afundamento sistemático de navios de passageiros e cargueiros brasileiros, por submarinos alemães. Havia alguma relutância do Governo Vargas, que não dissimulava num certo período a simpatia germanófila, em assumir a posição que as dramáticas circunstâncias exigiam. Ao ser feita a declaração de rompimento de relações diplomáticas com a Alemanha, Itália e Japão, o entusiasmo cívico exacerbado do chefe militar da região do Triângulo Mineiro, responsável pelo alistamento militar, inspirou uma decisão danada de irrefletida que provocou inusitados desdobramentos. Sem prévios consentimentos e consultas, julgados de somenos em sua arrogante avaliação, a autoridade resolveu apoderar-se “na marra” do batistério de uma das paróquias da Diocese de Uberaba. O clamor do vigário, guardião zeloso da documentação, recebido com desdém e truculência, ganhou eco no protesto do bispo, traduzido em manifestações no púlpito e imprensa.

Mas – é o que nos interessa – acabou desembocando no reconhecimento de que as razões assistiam por inteiro ao bispo e à Diocese. O Supremo Tribunal Federal intimou a parte perdedora, no caso o Exército, a ressarcir a Diocese de Uberaba, fixando uma soma indenizatória à guiza de compensação moral e material.

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O que aconteceu, na sequência, deixou todos boquiabertos e emocionados ao mesmo tempo. Alexandre Gonçalves Amaral resumiu num gesto lapidar o verdadeiro sentido, para ele, daquela disputa. Mandou devolver a importância ao governo, “ao glorioso Exército Nacional”. Deixou explícito, de forma cabal e definitiva, que tudo não passara de uma questão de princípio.

Narrarei adiante, outros fatos em que Alexandre demonstrou desassombro cívico face à prepotência.
De Alexandre pode-se ainda apontar, como dons peculiares: sabedoria incomum, cultura fulgurante, hábitos franciscanos, vivência encharcada de apostolicidade; fala eletrizante, adequada ao momento, à plateia, à faixa etária, ao ambiente cultural; fala didática e bem-humorada, fustigante, se preciso, no tom, tamanho e hora certos; apego apaixonante a princípios.

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