Entenda a importância da reconciliação do feminino para o bem da humanidade

Historicamente as mulheres são violadas. Fisicamente, emocionalmente, patrimonialmente e intelectualmente. Mas, hoje, eu não falarei de violência. Pretendo plantar, aqui, neste 7 de março, aos 24 anos do século XXI, uma mobilização pela reconciliação.
Entendo que a Organização das Nações Unidas (ONU), ao criar a agenda com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as 169 metas, tinha a intenção de colaborar para que cada um de nós pudesse visualizar o que realmente importa.
Para mim, para além da proposta de cada um dos ODS, existem oportunidades. Ao contemplar os objetivos, reconheço onde posso atuar pelo bem comum.
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Todo começo está em nós. Cada iniciativa depende, antes de qualquer ato externo, de uma conciliação íntima. Isso eu chamo de construção de cenário interior. Aprendi que antes de fazer pelo outro eu preciso caminhar em mim. Isso não é egoísmo, trata-se de sabedoria.
Eu só sei quem sou em grupo se eu me enxergo merecedora e justa no espelho. E, ao entender o meu papel e a minha missão individualmente, consigo atuar verdadeiramente em rede.
Por isso, antes de colocarmos em marcha nossas ações pelo ODS 5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas – peço que cada um, com o máximo de gentileza e amor que tiver por si, dedique-se, cinco segundos, a mentalizar agora o seu autovalor.
Potente e necessário. É nesse reconhecimento que vamos nutrir a reparação social às mulheres. Com paz e respeito, teremos clareza para perceber que o feminino em paz prospera toda a humanidade.
Reconheço que não é simples.
Por isso, repito isso para mim mesma: o cuidado com o valor da mulher é a chave para o desenvolvimento social e econômico que almejamos. Então, eu repito. Para as empreendedoras que aqui estão, para os homens, empresários e empresárias de setores e grupos privilegiados. Estejamos, todos e todas, em processo de conscientização e reconstrução social do espaço do feminino, como base de transformação e evolução da sociedade.
E peço atenção especial a essa mulher preta, periférica, marginalizada e violada. Que é a base da construção da riqueza, em todos os sentidos, desta nação.
Muitos são os contextos de desigualdade do nosso País. Presenciamos a polarização política em almoços de família que está longe do fim. Lembremos que essa divergência está a desserviço dos que verdadeiramente querem construir juntos a prosperidade para todos.
Em outra parte do mundo, guerras no Oriente parecem distante de nós em tempo e espaço. Séculos de mortes mostram que falta muito para chegar perto da paz.
Entendo as nuances geopolíticas. E, cada vez mais, estou certa que o conflito está dentro de nós. É em cada desassossego, injustiça social e omissão que a fagulha começa.
Portanto, para falar de soluções acerca das questões das mulheres, começar nessa conciliação íntima que venho falando. Então, aproveito para compartilhar minha conciliação.
Como primeira mulher presidente do DIÁRIO DO COMÉRCIO em noventa anos, também venho rompendo estruturas. Em minha liderança, o afeto faz parte da gestão pela igualdade de oportunidades, pelos direitos reprodutivos, pela equiparação salarial, pela representatividade de gênero e, especialmente, pela redução à violência contra a mulher. Nem sempre sou compreendida. E me sinto só, mesmo sendo privilegiada.
Tenho muito orgulho em dizer que faço parte dessa rede de acolhimento e cuidado que se apresenta. Como mulher, liderança, mãe, filha. Compartilho diversos desafios femininos. Embora, sim, eu saiba que tive oportunidades que outras mulheres que estão aqui não tiveram. Contudo, tenho minha história de dor e dificuldades também.
E eu me senti acolhida e visceralmente conectada, desde o primeiro encontro, com esse grupo maravilhoso de empreendedoras. Quero que saibam que suas jornadas me inspiram e que podem contar comigo. Porque eu conto com vocês. Vocês são uma rede valorosa de conhecimento e afeto para mim.
Por isso, quando conheci Marciele Delduque, a “Rede de Marianas, Mulheres que Inspiram” fez todo sentido abrir espaço para mais lideranças femininas transformadoras, especialmente negras e com experiências.
Entre tantos conteúdos propositivos do DIÁRIO DO COMÉRCIO, lançamos a coluna “Empreender é Ressignificar”. Marciele e tantas outras empreendedoras compartilham com nossos leitores as páginas de suas vidas. Em um empreendedorismo pioneiro, porque o cuidado é prévio à modelagem de negócio.
E é por elas, pela “Rede de Marianas, Mulheres que Inspiram”, por Mariana, minha filha, pela minha mãe, por mim e todas que não puderam estar aqui e, especialmente, àquelas que não resistiram às violências, que compartilho esse manifesto em forma de carta.
Essa é uma Carta Manifesto(**) nossa. Desejo enfatizar que ela é para mulheres e homens. Visa à reconciliação do feminino. E, embora priorize o lugar da mulher, reza pelo bem da humanidade. E que está aberta para ser multiplicada.
Para tal, na intenção única de delinear alguns dos caminhos, sem nenhuma intenção de interferir nas tarefas de cada um, nem mesmo traçar uma versão acabada desse documento, nós, do Movimento Minas 2032, organizado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO e Instituto Orior, sugerimos eixos de abordagem aos três setores que compõem nossa economia. A proposta é que, a partir dessa Carta Manifesto, cada indivíduo em seus setores se inspire para fortalecer sua atuação em rede.
Algumas inspirações:
Primeiro Setor
- Reduzir a quantidade de assassinatos contra a mulher em 5 anos;
- Qualificar e quantificar a rede de atendimento/acolhimento/atenção à mulher vítima de violência doméstica no Estado;
- Divulgar as redes de defesa existentes e otimizar o trabalho em rede pela redução da violência favorecendo a participação popular.
Segundo Setor
- Investir mais em projetos de combate à violência contra a mulher;
- Investir mais em projetos de educação e informação de combate à violência;
- Divulgar as redes de defesa existentes e otimizar o trabalho em rede pela redução da violência favorecendo a participação popular.
Terceiro Setor
- Trazer ações de combate à violência contra a mulher para instituições de atendimento de outras naturezas atuando em rede;
- Captar recursos para ações de combate à violência contra a mulher para instituições de atendimento de outras naturezas atuando em rede;
- Divulgar as redes de defesa existentes e otimizar o trabalho em rede pela redução da violência favorecendo a participação popular.
**Esta Carta Manifesto foi apresentada ontem, durante o evento “Empreender é Ressignificar”, que reuniu lideranças empresariais e mulheres empreendedoras na sede do Sebrae Minas, em Belo Horizonte. O objetivo do encontro foi gerar um ambiente de muita conexão e networking.
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