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Recursos para combater mudanças climáticas aumentam, mas financiamento está longe do ideal

Sistema internacional ainda favorece grandes mercados e deixa em segundo plano as nações com menos capacidade de captação
Recursos para combater mudanças climáticas aumentam, mas financiamento está longe do ideal
Foto: Freepik

Apesar do aumento no volume global de recursos destinados ao combate às mudanças climáticas, o financiamento ainda está longe de alcançar quem mais precisa. Em 2023, os fluxos globais ultrapassaram US$1,9 trilhão, segundo a Climate Policy Initiative. No entanto, apenas 11% desses recursos chegam efetivamente a países de baixa renda — os mais vulneráveis aos impactos do aquecimento global. A disparidade revela uma fragilidade estrutural: o sistema internacional de financiamento ainda favorece grandes mercados e deixa em segundo plano as nações com menos capacidade de captação.

Outro ponto crítico é o desequilíbrio entre os recursos destinados à mitigação — ações para reduzir emissões — e à adaptação — medidas para lidar com os efeitos já inevitáveis da crise climática. Em 2022, apenas 25% do financiamento foi direcionado à adaptação, embora especialistas recomendem uma divisão mais equilibrada. Países em desenvolvimento, frequentemente afetados por eventos extremos como secas e enchentes, ficam desassistidos no momento em que mais precisam.

Na África, embora o financiamento tenha crescido 48%, atingindo US$ 43,7 bilhões em 2021/2022, o valor ainda cobre apenas 20% das necessidades estimadas. E mais da metade desses recursos chega via empréstimos, agravando o endividamento de países frágeis. Já o setor agrícola, essencial tanto para a segurança alimentar quanto para a transição climática, é outro exemplo de subfinanciamento. Estima-se que seriam necessários ao menos 1,1 trilhão de dólares por ano para torná-lo sustentável, mas ele recebe menos de 5% dos recursos climáticos. No Brasil, iniciativas como o fundo Catalytic Capital for the Agriculture Transition (CCAT) buscam preencher parte dessa lacuna com parcerias público-privadas.

Portanto, para que o financiamento climático seja eficaz, é preciso reformar seus mecanismos. É fundamental ampliar o uso de capital catalítico, como garantias e crédito concessional, que reduzem riscos para investimentos em regiões mais vulneráveis. Transparência também é crucial: um relatório da Oxfam aponta que 41 bilhões de dólares repassados pelo Banco Mundial entre 2017 e 2023 não tiveram destinação rastreável, o que compromete a eficácia das ações.

A mobilização do setor privado é relevante — em 2023, respondeu por mais de 1 trilhão de dólares em investimentos climáticos —, mas deve estar alinhada a critérios sociais claros. Modelos de blended finance, que combinam fundos públicos, privados e filantrópicos, mostram potencial de impacto, mas exigem governança eficiente e foco na justiça climática.

Vale concluir que o desafio não é apenas ampliar os recursos, mas garantir que eles cheguem a quem mais precisa. Em um cenário de emergência ambiental, distribuir o financiamento de forma justa é tão urgente quanto reduzir emissões. Trata-se não apenas de uma questão econômica, mas de equidade global.

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