Artigo

A revolução tecnológica

Uma das questões centrais ao tentar pensar no futuro é o avanço da tecnologia, que embora não linear e nem completamente previsível, pode ser analisado observando onde estão indo os investimentos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), em particular aqueles investimentos que vem do setor militar e espacial que, em geral, antecedem as aplicações civis em 5 a 10 anos.

Alguns exemplos históricos são os computadores desenvolvidos inicialmente para o projeto Manhattan ou os satélites de telecomunicação, bem como celulares e a internet. Muitas tecnologias são desenvolvidas inicialmente pensando em usos militares e espaciais, e após alguns anos acabam indo para o mercado privado.

Este tipo de estratégia se chama de estratégia dual, isto é, o investimento feito pelo governo, em geral pelas forças armadas, gera tecnologias que mais tarde geram desenvolvimento econômico e empregos.

Assim, se obtém uma excelente sinergia entre o investimento público e o investimento privado.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


O Brasil perseguiu esta estratégia dual em três setores: agronegócio, aeroespacial e energia. Em cada um deles havia estruturas públicas de pesquisa e educação, bem como estruturas privadas e um mercado com grande demanda. Nestes três setores o Brasil virou referência global, indicando que esta estratégia funciona aqui também.

Ao fazer o mapeamento de onde estão indo os investimentos de tecnologia por parte dos governos e das forças armadas e programas espaciais, nem sempre é possível identificar exatamente o destino do dinheiro. Mas, em geral, os orçamentos e os programas de longo prazo são um bom guia. Esta metodologia se chama de “Siga o dinheiro” e assume que, embora a relação de resultado com investimento não seja de 100%, em geral ela é alta.

Em particular, os investimentos dos EUA são os mais fáceis de mapear devido à transparência e o fato de que os EUA são o país que mais investe em P&D no mundo, com um total na ordem de US$ 600 bilhões a US$ 700 bilhões por ano. Tais investimentos estão focados em auxiliar o processo de re-shore, ou seja, de trazer a indústria de volta para os EUA de maneira competitiva.

Isso implica que os EUA têm três grandes objetivos ao alocar tais investimentos: aumentar a longevidade do capital humano, ter acesso a novos recursos naturais e aumentar a produtividade de sua indústria e serviços.

A busca de aumento da longevidade do capital humano está sendo feita por meio de um grupo de tecnologias chamadas de “Melhoria Humana”. Isto inclui tecnologias tais como aprimoramento genético, nanotecnologia, biotecnologia, bioimpressão, medicina avançada, e interfaces neurais. Os termos “melhoria animal” e “melhoria vegetal” já são usados desde a década de 1990 e agora chegamos ao uso de tais tecnologias adaptadas para os seres humanos.

O objetivo geral é aumentar a longevidade dos seres humanos reduzindo os gastos em saúde por indivíduo (público e privados), aumentando o retorno de investimento em capital intelectual (educação) e com isso ampliando a vantagem comparativa de economias mais avançadas sobre países com mão de obra barata.

A necessidade de acesso a novos recursos naturais se dá por conta da crescente demanda de água, comida, energia e minérios que serão necessários com o aumento da população humana de 8 para 11 bilhões de pessoas, projetadas para o século 21, bem como o aumento de consumo per capita para eliminar a miséria no mundo.

Para atingir os objetivos contraditórios de preservar o ambiente e eliminar a miséria, serão necessários recursos de fora do planeta Terra. Isto é a base da justificativa para os programas espaciais, entre eles o programa Artemis de ida à Lua para servir como trampolim para Marte. O sistema econômico terá que se expandir para englobar inicialmente o sistema Terra-Lua chegando ao cinturão de asteroides.

O potencial de geração de energia no espaço, mineração de asteroides, água vinda de asteroides e luas, e, eventualmente, estações orbitais de plantações hidropônicas, é muito alto, e potencialmente elimina a necessidade de agredir o ecossistema terrestre para o desenvolvimento econômico.

Como essas tecnologias em geral só estarão disponíveis num futuro mais distante existe a necessidade no curto prazo de uma transição energética. Isto ao mesmo tempo reduz a dependência de combustível fóssil, que é problemática do ponto de vista geopolítico e prepara para formas de energia mais viável vinda do espaço, como energia solar, hidrogênio, fissão e fusão nucleares.

Finalmente o aumento da produtividade se dá por duas áreas que são complementares: transformação digital e indústria 4.0. Ambas reduzem a dependência de mão de obra pouco qualificada e barata e ajudam a agregar valor aos produtos e serviços, gerando economias com salários mais elevados.

A transformação digital é um termo guarda-chuva para uma série de tecnologias, tais como inteligência artificial, inteligência híbrida, internet das coisas (sensores), comunicação quântica, computação quântica, big data, paralelismo e metaverso. A indústria 4.0 inclui diversas tecnologias tais como impressão 3D, exoesqueletos, robôs, Cobots, veículos automáticos, drones e Hyperloop. Várias delas ainda na “infância” ou em desenvolvimento.

Como podemos ver, embora o avanço tecnológico nos surpreenda de vez em quando, é possível fazer um mapeamento razoável do que está por vir e com isso se antecipar em termos de cenários e possibilidades de mudanças em nosso setores de trabalho.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas