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Tarifa americana caiu, falta cair o nosso velho vício tributário

Enquanto os norte-americanos reduzem tarifas, o Brasil segue preso ao seu eterno labirinto tributário
Tarifa americana caiu, falta cair o nosso velho vício tributário
Crédito: Adobe Stock

A decisão do governo Trump de retirar a tarifa adicional de 40% sobre diversos produtos brasileiros provocou um breve alívio — especialmente no agro, que hoje sustenta boa parte das nossas exportações e competitividade externa. Mas, por trás do movimento, existe uma lição muito mais profunda, que o Brasil tenta ignorar há décadas: tarifa é imposto, e imposto sempre cai sobre o consumidor.

Sim, alguns setores brasileiros ganham com a mudança. Mas quem mais ganha, no fim das contas, são os consumidores americanos, que passam a pagar menos pelos mesmos produtos. Trump não fez um gesto “pró-Brasil”. Ele fez um gesto pró-EUA — e, sinceramente, está certo em fazê-lo. Um governo sério deve agir para tornar a vida do seu povo mais barata, mais eficiente e mais competitiva.

E o que fazemos no Brasil? Exatamente o contrário. O Brasil cobra muito e entrega pouco. Enquanto os EUA reduzem tarifas, o Brasil segue preso ao seu eterno labirinto tributário — o segundo mais pesado da América Latina. Não por acaso temos uma economia que cresce pouco, produtos mais caros que a média global e consumidores que pagam a conta mais salgada do continente.

O Estado brasileiro cobra como país rico e devolve como país pobre. Essa combinação perversa — carga alta, retorno baixo — é um dos grandes culpados pela falta de competitividade nacional. E, pior ainda, impede o brasileiro comum de ter acesso a bens mais baratos, equipamentos modernos e produtos importados que poderiam aumentar produtividade e qualidade de vida.

Nossa indústria não está sendo protegida. Está sendo sufocada. Protecionismo é um museu de grandes novidades. Há quem acredite que tarifas altas servem para proteger a indústria nacional. Essa ideia foi verdadeira no passado, quando o Brasil ainda construía seu parque industrial. Hoje, não passa de um caco histórico. A proteção virou muleta. E, como toda muleta usada por tempo demais, acaba atrofiando as pernas.

Países que entenderam isso — Coreia do Sul, Irlanda, Chile, Singapura — abriram suas economias, reduziram impostos e deixaram a competição fazer o trabalho que o Estado jamais conseguiu fazer: elevar a produtividade.

Aqui, continuamos presos ao improviso: cada produto importado é punido, cada inovação chega atrasada, cada avanço tecnológico é taxado como se fosse vício. E depois nos perguntamos por que o Brasil nunca deslancha.

Quando os EUA reduzem tarifas, mostram ao mundo — mais uma vez — que competitividade nasce de eficiência, não de proteção artificial. O movimento expõe, sem maquiagem, nossas próprias fragilidades. Não avançamos porque não queremos enfrentar o óbvio: o Brasil tributa demais e entrega de menos.
A tarifa americana caiu. O Brasil, porém, continua firme no seu velho hábito de castigar quem consome, quem produz e quem investe. É um vício caro, cultural e profundamente arraigado — e que, por isso mesmo, exige coragem política para ser rompido.

A remoção da tarifa de 40% pelos EUA deveria ser comemorada. Mas também deveria servir como alerta. Expõe uma verdade incômoda: enquanto o mundo tenta baratear produtos para seus consumidores, o Brasil faz o oposto.

Se quisermos realmente competir lá fora, precisamos começar arrumando a casa aqui dentro. Isso significa: reduzir impostos de importação, facilitar acesso a bens de capital, incentivar competição real, aumentar produtividade e, principalmente, parar de tratar o consumidor brasileiro como fonte inesgotável de arrecadação.

O caminho para o desenvolvimento não passa por mais Estado cobrando. Passa por mais Brasil produzindo. E produzindo melhor, mais barato e com menos amarras. A tarifa americana caiu. Agora falta o Brasil derrubar o seu maior obstáculo: a nossa mentalidade tributária.

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