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Tarifas impostas por Trump podem ser tiro no pé

Medida marca um retorno definitivo ao protecionismo como doutrina oficial no país norte-americano
Tarifas impostas por Trump podem ser tiro no pé
Foto: Reuters Carlos Barria

Trump declarou “independência econômica” e impôs tarifas sobre todas as importações, com alíquotas iniciais de 10% e adicionais para países como China e membros da União Europeia. Essa medida marca um retorno definitivo ao protecionismo como doutrina oficial dos Estados Unidos (EUA). 

O presidente americano afirma ainda que as tarifas protegerão a indústria. Mas a realidade é mais complexa. Embora fabricantes de aço e alumínio possam se beneficiar no curto prazo, setores que dependem de insumos importados – como automotivo, eletrônico e farmacêutico – enfrentarão aumentos de custo significativos. Isso pode tornar produtos americanos menos competitivos no próprio mercado doméstico. 

Pequenas e médias empresas, que não têm escala para renegociar contratos ou adaptar cadeias produtivas rapidamente, podem sofrer ainda mais. Ou seja, a política de proteção pode, paradoxalmente, enfraquecer parte expressiva da própria indústria que pretende salvar.

E embora as tarifas não tenham como alvo direto os países latino-americanos, os reflexos são perceptíveis. Brasil, México e Argentina, por exemplo, podem perder competitividade em mercados em que os EUA decidam subsidiar produção local com isenções internas. 

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Ao agir de forma unilateral e ignorar os canais de resolução de disputas, Trump reforça o colapso de um sistema construído ao longo de 70 anos. A Organização Mundial do Comércio já vinha sendo enfraquecida pela paralisia de seu órgão de apelação, e agora sua irrelevância é praticamente oficializada. 

Isso abre espaço para um mundo mais fragmentado, onde acordos bilaterais e zonas de influência definem as regras — uma mudança radical com consequências imprevisíveis para países em desenvolvimento, que perdem seu maior foro de proteção.

Cada novo atrito acelera essa desconexão. E se o dólar perder espaço como moeda de referência global, os EUA enfrentarão uma erosão de poder sem precedentes, perdendo a capacidade de financiar déficits a custos baixos — o que, ironicamente, pode tornar a economia americana mais vulnerável a longo prazo.

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